Renato
Andrade e Gustavo Schmitt / O Globo
SÃO
PAULO - Um dos postulantes do autodenominado “polo democrático” ao Palácio do
Planalto, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), defende que o centro
encontre até novembro um nome único para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro
e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. O tucano reconhece que a
discussão abarca um grupo grande e heterogêneo, mas, apesar das dificuldades,
acredita em uma solução. Doria tem encontrado resistência a seu nome dentro do
próprio PSDB, que na sexta-feira montou uma comissão para organizar as prévias
para definir o pré-candidato. Essa relutância ficou mais exposta na semana
passada, quando o presidente da legenda, Bruno Araújo, defendeu que o senador
Tasso Jereissati (CE) entrasse na disputa. Outra opção posta pela sigla é o
nome do governador do RS, Eduardo Leite. Independentemente do escolhido, Doria
nega que vá deixar o PSDB.
O
espectro considerado nas conversas sobre a construção de uma terceira via para
2022 é uma espécie de “centro expandido” da política. Isso não dificulta a
construção de uma candidatura forte para enfrentar Bolsonaro e Lula?
Todo
início exige amplitude para que você possa depois chegar ao resultado. Por
isso, são sete nomes que compõem esse polo democrático. Os pensamentos não são
iguais. Mas nós convergimos em um ponto: a defesa do Brasil. Neste momento,
isso basta. É um fator importante de coesão.
Não
existe o risco de nomes demais na corrida, o que favorece os extremos?
Tem
razão. Mas tudo tem sua hora. Neste momento, é a hora de manter esse campo do
polo democrático mais expandido. Ao final do ano, provavelmente em novembro,
ele deverá estar ampliado no seu âmbito de referências, mas com a definição de
um nome que possa representar o centro no embate eleitoral.
Os
nomes do centro têm diferentes visões sobre a economia, principalmente o
ex-ministro Ciro Gomes. Há chance de aliança com o Ciro?
Nesse
momento, a gente não pode descartar nada. Temos que ter uma visão um pouco mais
sublimada das questões partidárias, eleitorais e até ideológicas. Colocar o
Brasil em primeiro lugar e manter esse pensamento até o limite do possível.
Qual é esse limite? A meu ver, será novembro, um ano antes do pleito eleitoral.
Até lá, temos que dialogar e evoluir até chegarmos a um nome que permita uma
conclusão.
Na
construção dessa aliança , a ideia também é agregar outros setores, como o
empresariado?
Sim,
é importante. A sociedade civil como um todo, sejas pelas pessoas, seja pelas
instituições. E por aquilo que representam. O mundo intelectual, o mundo da
cultura, da economia e da advocacia.
O
centro poderia ter mais de um candidato em 2022?
Haverá de ser um. É preciso ter paciência e discernimento. E de novo: focalizar o Brasil, a defesa do país e não a defesa pessoal. Se não conseguirmos chegar até outubro com uma única candidatura e tivermos mais de uma, faz parte do jogo. Temos que avançar sempre olhando o horizonte. Não é partido, não é pessoa e não é ideologia. É o país.
Aliados
acreditam que a CoronaVac pode ser seu Plano Real. Mas, em 1994, a nova moeda
foi lançada meses antes da eleição. O senhor não teme que o efeito político da
vacina seja diluído?
A
vacina não é um ativo eleitoral. É ativo de vida, de saúde e da ciência. Tenho
trabalhado nesse sentido. Não pelo prisma eleitoral, populista e de dimensão
partidária. Ainda vamos enfrentar a pandemia no ano que vem. Aliás, vamos
enfrentar, talvez não como pandemia, mas como doença, por muitos anos. A
necessidade da vacina será permanente. Pelo menos até que tenhamos medicamentos
preventivos.
A
vacina se tornará um ativo na medida que seu nome sair como candidato. Não é
inevitável essa associação?
Claro.
Você precisará ser vacinado. No início da semana quem vem, vou tomar minha
vacina, tenho 63 anos. No ano que vem, todos brasileiros terão que ser
vacinados. Você não vai se esquecer disso. O dia que os pais tomam a vacina, os
filhos falam: “Ufa, meus pais estão vacinados”.
A
CPI da Covid pode ter algum resultado concreto?
O
Congresso tem que cumprir seu papel, de forma célere e independente,
preservando o caráter científico daquilo que representa uma investigação. Por
que o Brasil não comprou as vacinas? Por que não comprou a vacina do Butantan
em outubro?
O
governo paulista espera que a Anvisa adote, diante da nova vacina, a mesma
resistência do processo da CoronaVac?
A
Anvisa hoje, dado os exemplos de equívocos cometidos no ano passado, deverá ter
uma postura técnica e rápida. Não temos dúvida. Não temos vacinas no país.
O
senhor se arrepende de ter associado seu nome a Bolsonaro em 2018?
Errei
ao votar em Bolsonaro e assumo isso. Como eu, milhões de outros brasileiros
também votaram em Bolsonaro, contra o projeto do PT, e cometemos um grave
equívoco. Eu assumo tacitamente isso. Mas não vou errar novamente.
O
ex-presidente Fernando Henrique disse que se tivermos um segundo turno entre
Lula e Bolsonaro, ele votaria no petista por ser “o menos ruim”. Concorda?
Eu
prefiro votar no melhor, não no menos ruim. Prefiro acreditar que há soluções democráticas
no Brasil acima de Lula e Bolsonaro.
Não
há um exagero na tentativa de comparação entre Lula e Bolsonaro?
Os
extremos se tocam, a história mostra isso.
Houve
falta de coordenação entre Planalto e governadores na elaboração de medidas
para ajudar as empresas a enfrentarem a pandemia?
Faltou
coordenação nacional e liderança. O Brasil não tem um líder, tem um psicopata.
Se tivesse um líder, ele teria liderado o país pela vida, pela saúde, pela
vacina, pela retomada econômica, pelo combate à miséria, à pobreza, ao
desemprego e à fome. O Brasil é um oceano de fracassos: na saúde, na ciência,
no meio ambiente, na educação, na proteção aos mais pobres. Vai demorar para
recuperar o Brasil depois de Bolsonaro.
Existe
algo que possa ser feito agora, nacionalmente, para ajudar as empresas?
Milhões
de pessoas estão sofrendo, assim como milhares de empresas. Qual é o nível de
socorro e coordenação do governo federal? Nenhum. Mesmo para a aprovação de um
auxílio emergencial houve uma dificuldade enorme e acabamos com um auxílio que
dá para comprar um botijão de gás, dois quilos de arroz, dois quilos de feijão,
dois sacos de farinha e mais nada. Que ajuda é essa? É um desastre.
Diante
deste cenário, o que o estado pode fazer? Muitos criticaram o ajuste aprovado
pelo seu governo que gerou um aumento de imposto.
Se
não fizéssemos isso, teríamos colocado São Paulo em falência. Seria um estado
dependente do governo federal, como há vários, inclusive o Rio. Por força dessa
reforma administrativa — São Paulo foi o único estado que aprovou uma reforma
administrativa — hoje temos R$ 21 bilhões em caixa. E vamos religar a economia
fortemente já a partir deste ano. Não vamos atrasar salários, nem comprometer
serviços de segurança, saúde, nem educação, nem de proteção social. É preciso
ter coragem para fazer as coisas. Ser populista é fácil. Ser bom gestor é
difícil.
Como
avalia movimentações de Geraldo Alckmin para voltar ao governo do estado?
Sempre
acreditei e sempre apostei na renovação. Precisamos abrir espaços. O governador
Alckmin cumpriu muito bem sua tarefa. É um homem de profunda dignidade e tem
todo direito de dialogar. Ele tem espaço no PSDB e poderá, diante de um
entendimento com o senador José Serra, disputar o Senado.
Te
incomoda a postura do comando do partido de colocar sempre um novo nome como
possível candidato à Presidência?
Isso
não me causa incômodo, faz parte da história do PSDB. Vivenciei isso em 2015.
Disputei as prévias e venci. Em 2018, a mesma coisa. Não tem problema algum.
Tasso Jereissati, Eduardo Leite, Arthur Virgílio, todos merecem todo o
respeito. Isto prova que o PSDB é um partido democrático.
Se
o caminho da terceira via não chegar a um nome e o senhor considerar que tem
razão para disputar o Planalto, trocaria de partido?
Meu projeto não é político-partidário. Meu projeto é defender meu país e isso está à frente do meu nome. Trocar de partido seria um gesto individualista, seria buscar na individualidade de uma outra opção partidária a defesa do seu interesse. Não há razão para sair do PSDB. Sou filiado ao PSDB desde 2001, filiado por opção, não por eleição.
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