Correio Braziliense
O impeachment não empolga os
partidos de oposição, mas ganha apoio da opinião pública e já começa a ser
visto como uma contingência que não pode ser descartada
Parece que o fracasso subiu à cabeça do
presidente Jair Bolsonaro, que não se ajuda. Com dificuldades de se relacionar
com as regras do jogo da Constituição de 1988, está levando o país para uma
situação dramática. Cria uma situação de grave crise institucional, na qual
seus aliados não têm muito como ajudá-lo, porque contraria seus interesses
políticos e eleitorais regionais. O ministro da Economia, Paulo Guedes, faz
mais ou menos a mesma coisa com a boa vontade dos agentes econômicos, que davam
sustentação ao governo em função da necessidade de estabilidade na economia,
mas agora se afastam.
A escalada do confronto do presidente Jair
Bolsonaro com o Supremo Tribunal Federal (STF) não tem chance de terminar bem,
apesar dos esforços do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), para
amortecer a trombada com o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, que sempre
teve uma postura cordata e moderada. Na sexta-feira, Bolsonaro entrou com um
pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, que imediatamente
recebeu a solidariedade de seus pares, em nota assinada por Fux. Quem imaginava
que Bolsonaro havia desistido do pedido em relação ao presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, deve esperar mais um
pouco: nos bastidores do Planalto, comenta-se que isso também deve ocorrer
nesta semana.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(DEM), pretende examinar o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes
tecnicamente, por obrigação, mas já disse que a medida não tem acolhida
política. Ou seja, se não for engavetado, será derrubado em plenário. O sinal
de que o tempo fechou para Bolsonaro no Senado veio também do presidente da
Comissão de Constituição e Justiça, sena- dor Davi Alcolumbre (DEM-AP), que
suspendeu a sabatina do ex-advogado-geral da União André Mendonça, indicado
para a vaga do ex- ministro Marco Aurélio Mello no Supremo. Apesar de contar
até com o apoio da bancada do PT, a aprovação de Mendonça subiu no telhado.
Bolsonaro não ajuda mesmo os seus aliados. Ciro Nogueira já está desconfortável no cargo, porque suas negociações políticas não são honradas pelo presidente da República. Na semana passada, tentou uma reaproximação de Bolsonaro com Fux, mas as conversas foram desmentidas pelos fatos. O presidente do PP assumiu a Casa Civil com a missão de melhorar o relacionamento do governo com o Congresso e costurar alianças eleitorais robustas, principalmente no Nordeste, mas está fracassando mais rápido do que se imaginava. É uma situação muito parecida com a do ex-senador Jorge Bornhausen, que assumiu a articulação política do governo Collor de Mello e não conseguiu evitar o impeachment.
Impeachment
A propósito, o impeachment de Bolsonaro não tem aceitação entre os principais
atores políticos do país, inclusive na maioria dos partidos de oposição. O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera com folga a corrida para as
eleições presidenciais de 2022, quer Bolsonaro sangrando até a eleição.
Entretanto, o impeachment ganha crescente apoio da opinião pública e já começa
a ser visto como uma contingência que não pode ser descartada, mais uma vez,
porque Bolsonaro não se ajuda. Por exemplo, está anunciando que pretende
comparecer à manifestação bolsonarista de 7 de setembro, na Avenida Paulista,
enquanto nas suas redes sociais as convocações para bloquear Brasília e invadir
o Supremo Tribunal Federal prosseguem. Onde vamos parar?
Essa é a pergunta que ninguém sabe
responder, porque o bom senso não orienta as decisões de Bolsonaro, somente o confronto.
Entretanto, sua rota de colisão com o Supremo precisa ser interrompida, antes
que o país mergulhe no caos. Não apenas por cau- sa da crescente radicalização
dos bolsonaristas, que o presidente da República emula, mas por causa da
economia. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também escolheu a rota do
fracasso.
Na semana passada, Guedes implodiu a
proposta de reforma tributária que estava em discussão no Senado, com a equipe
do relator, senador Roberto Rocha, e era apoiada pelo presidente da Casa,
Rodrigo Pacheco. Chantageia o Congresso com a história de que não terá dinheiro
para pagar os servidores e o Auxílio Brasil, programa que substituirá o Bolsa
Família, se a PEC dos Precatórios não for aprovada. A medida é polêmica porque
agrava o deficit fiscal e gera muita insegurança política. Além disso, inflação
e desemprego agravam a crise social e são o caldo de cultura para maior
radicalização política.
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