O Estado de S. Paulo
O impeachment do ministro Alexandre de Moraes não dá em nada, mas atiça alucinados para o dia 7
Junto com a radicalização, o pedido de
impeachment do ministro Alexandre de Moraes e a resistência vigorosa do Supremo
às ameaças ao nosso 7 de Setembro, um mal se alastra pelo Brasil como erva
daninha, ou como a variante Delta: o negacionismo, ou terraplanismo, que
mistura ideologia, ignorância, crença cega e má fé, arrastando milhões de
ovelhas fiéis e incautas para o lado errado da história.
Depois de um ministro da Educação que
falava mal o português, um segundo que não sabia escrever e queria prender os
ministros do Supremo e um terceiro que não tomou posse por fraudar o currículo,
chegamos ao pastor Milton Ribeiro. Discreto (omisso?), ele sumiu durante a
pandemia e lembra o personagem de TV que “só abre a boca para falar besteiras”.
Em entrevista ao Estadão, o ministro (da
Educação!) disse que jovens gays são resultado de “famílias desajustadas”.
Depois, voltou à cena com a tese de que universidades são para “poucos”.
Leia-se: para a elite branca das escolas particulares. Sim, é preciso investir
mais no ensino profissionalizante e menos em faculdades de fundo de quintal que
geram diplomas, não profissionais aptos para o mercado. Mas tratar
universidades como bolhas, condenando pobres e negros à exclusão eterna?
Por último, o pastor Ribeiro declarou que alunos com alguma deficiência “atrapalham” as aulas e devem ser segregados. Pai de Ivy, de 16 anos, portadora de Down, o senador e craque Romário desprezou a diplomacia. Chamou o ministro de “imbecil e deselegante” e tascou: “Toma vergonha na cara!”.
A experiência, nacional e internacional,
confirma que crianças e jovens com alguma deficiência ou altas habilidades
evoluem muito, são mais capazes e felizes ao conviver com os colegas em salas
de aulas inclusivas, com uma troca de alto teor educativo: todos aprendem com
todos e, juntos, preparam-se melhor para a vida, a igualdade, a empatia, o
amor.
Para Ribeiro, isso é “inclusivismo”, primo
do “ambientalismo” que o exchanceler Ernesto Araújo acusava em governos,
organizações e cidadãos que defendem o Meio Ambiente. De que família são esses
primos? Do comunismo e do esquerdismo, armas da tia China para destruir o
Ocidente...
Se o ministro da Educação chocou o País
embolando suas crenças pessoais com políticas públicas, o da Saúde, Marcelo
Queiroga, exibiu o seu terraplanismo de conveniência. Médico respeitado
convertido ao bolsonarismo, Queiroga deu uma cambalhota e se declarou — como o
presidente Jair Bolsonaro, e em mídia aliada — contra o uso obrigatório de
máscaras na pandemia. Na contramão, pois, da OMS e de todos os governos do
mundo civilizado.
Como, aliás, a subprocuradora Lindôra
Araújo, que alegou em parecer ao STF a falta de uma “medida exata da eficácia
das máscaras” para isentar o presidente de responsabilidade por não usá-las e
dar um péssimo exemplo para os brasileiros. Lembram do vídeo em que tirou a
máscara da criancinha?
Milton Ribeiro, Ernesto Araújo, Queiroga,
Lindôra, Abraham Weintraub, Ricardo Salles (ex-ministro do Meio Ambiente
pró-desmatamento),
Mário Frias (secretário da Cultura
anticultura) e Sergio Camargo (que é da Fundação Palmares e odeia negros) têm
em comum Jair Bolsonaro, o rei dos terraplanistas tupiniquins.
A eles se unem alucinados que incitam a
população a invadir o STF, ameaçar os ministros, bloquear estradas e parar o
País, enquanto o presidente reage ao real risco de derrota em 2022 atacando as
urnas eletrônicas e o atual e o futuro presidentes do TSE, Luís Roberto Barroso
e Alexandre de Moraes.
Bolsonaro sabe que o impeachment de Moraes
não vai dar em nada, mas o objetivo é outro: incendiar os Sergios Reis e os
Ottonis de Paula para o 7 de Setembro deixar de ser saudação à Pátria e virar
adoração ao mito. Jair acima de tudo, Bolsonaro acima de todos!
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