O Globo
Na noite de quinta-feira, Eduardo Bolsonaro
expôs o fantasma que apavora a família presidencial. O deputado reclamava do
cerco a aliados que ameaçam a democracia e conspiram contra a eleição de 2022.
Em tom de desabafo, questionou: “Qual seria o próximo passo? Prender o
presidente? Prender um dos filhos?”.
Depois do sincericídio, o Zero Três ainda
tentou se corrigir. “A gente não tem medo de prisão”, disse. Mas suas três
perguntas já haviam escancarado o pânico do clã.
O Judiciário deu novos passos para
desmontar a máquina de ódio e desinformação que sustenta o bolsonarismo. Na
segunda-feira, o Tribunal Superior Eleitoral bloqueou o financiamento de sites
especializados em notícias fraudulentas. Quatro dias depois, a Polícia Federal
fez buscas contra aliados do presidente que organizam atos golpistas.
A operação da manhã de sexta foi autorizada por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. No fim da tarde, Jair Bolsonaro apresentou um pedido de impeachment contra o ministro.
Na família presidencial, o vereador Carlos
Bolsonaro é o mais assustado com o avanço das investigações. Quando o TSE
fechou a torneira dos sites de fake news, o Zero Dois acusou o golpe e reclamou
de “censura”. Na semana anterior, ele havia protestado contra a prisão de
Roberto Jefferson, que classificou como “injusta”.
“Qualquer inocente sabe que sua prisão é
preocupante não somente a um, mas a todos os brasileiros”, tuitou o vereador.
Sua preocupação parece menos ligada ao ex-deputado do que ao próprio destino.
O patriarca do clã também ganhou novos
motivos para temer a cadeia. No início do mês, ele foi incluído na lista de
investigados no inquérito das fake news. Na decisão, Moraes anotou que o
presidente pode ter cometido onze crimes em seus seguidos ataques ao sistema
eleitoral.
Bolsonaro sabe que o Senado barrará
qualquer tentativa de cassar ministros do Supremo. Seu objetivo é inflamar a
militância de extrema direita antes dos atos governistas de Sete de Setembro. O
factoide também alimenta a campanha para minar a confiança popular no voto
eletrônico. Moraes assumirá o comando do TSE em agosto do ano que vem, às
vésperas das eleições.
A ofensiva contra o Supremo é um novo
alerta a quem ainda se ilude com a ideia de que Bolsonaro possa se moderar. Em
queda nas pesquisas, o presidente fará de tudo para manter os eleitores mais
radicais a seu lado. Por isso, tende a aumentar os ataques às instituições e as
ameaças de golpe.
A disputa de 2022 definirá mais que o
futuro inquilino do Planalto. Para a família Bolsonaro, será uma questão de
vida ou morte. Se perder o cargo, o capitão também perderá a blindagem
judicial. Seu antecessor, Michel Temer, sabe bem o que isso significa. Ele foi
preso em 21 de março de 2019, apenas 79 dias depois de deixar o poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário