Folha de S. Paulo
Bolsonaro pode trocar a eleição pela
blindagem do centrão, mas precisa combinar com a Justiça
Jair Bolsonaro declarou outro dia que o futuro só lhe reservava três opções, lembra-se? A prisão, a morte ou a vitória. A primeira ele descartou: "Eu não vou ser preso". A segunda delegou ao imponderável: "Só a morte me tira daqui". Restou-lhe a vitória, que ele via como inevitável, fosse através da fraude dos votos impressos ou de um golpe. O golpe broxou, como sabemos, e as pesquisas apontam que até um poste o derrotará no segundo turno. Ciente disso, o centrão, seu sócio no poder, cogita oferecer-lhe uma saída: renunciar à disputa presidencial, em troca de blindagem no Congresso contra o que o espera fora do Planalto —a cadeia.
Mas, supondo que Bolsonaro aceite trocar a
disputa pela proteção, como o centrão combinará
isso com a Justiça? As investigações já foram longe demais, e logo Bolsonaro
poderá se abanar com um leque de acusações: crimes contra a administração, a
paz e a saúde públicas, de responsabilidade, contra a humanidade, corrupção
passiva e prevaricação. Até para Arthur Lira é muita merda para passar o pano.
E, sem Bolsonaro no poder, seus OOs terão de responder por disparos de fake
news, desvio de dinheiro público, funcionários fantasmas, descaradas transações
imobiliárias, lavagem de dinheiro e tráfico de influência —por enquanto.
O centrão não é suicida. Seu programa
admite tudo exceto perder eleições, e a perspectiva do momento é a de morrer
abraçado a Bolsonaro. Como isso é impensável, trata-se só de escolher quando
deixá-lo pendurado na, perdão, ouvintes, brocha. Na verdade, a decisão de
disputar ou não a eleição não caberá a Bolsonaro, mas ao centrão —que espera
apenas a definição pelas pesquisas de um novo nome a apoiar.
Como Bolsonaro não explicou sua convicção
sobre a prisão ou a morte, talvez estivesse condicionando uma à outra: não será
preso porque morrerá antes.
Não queira saber como. Qualquer das hipóteses será um longo feriado.
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