Folha de S. Paulo
Votação de PEC dos Precatórios mostra força
de máquina de dinheiro público que pode beneficiar o presidente
O acordo generoso firmado com o centrão em
2020 blindou Jair Bolsonaro dos pedidos de impeachment que se acumulavam no
Congresso. Na última madrugada, as duas partes assinaram um aditivo a esse
contrato: em troca de uma boa recompensa, o bloco também mantém vivos os planos
eleitorais do presidente.
A vitória na primeira
votação da PEC dos Precatórios é o passo inicial para que o
governo pegue um atalho no Orçamento e pague um Bolsa Família turbinado no ano
que vem. Sem essa manobra, a derretida popularidade de Bolsonaro teria chances
reduzidas de recuperação na disputa por mais um mandato.
O governo conseguiu aprovar o drible graças a uma operação liderada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Em sociedade com o Palácio do Planalto, ele prometeu liberar dinheiro para que os estados banquem salários de professores e sinalizou que haverá mais espaço nos cofres para as emendas indicadas pelos deputados.
Bem alimentados, os parlamentares da base
governista demonstraram a esperada fidelidade a Bolsonaro, mas o centrão também
trabalhou para conquistar votos da oposição e dos partidos que se dizem
independentes —e, ao menos em tese, são contra a reeleição do presidente.
O PDT de Ciro Gomes deu 15 de seus 24 votos
a favor do projeto que facilita a vida de Bolsonaro em 2022. O PSDB de João
Doria e Eduardo Leite contribuiu com 22, e o PSD de Rodrigo Pacheco ajudou o
governo com outros 31. Toda a bancada do Solidariedade votou a favor do texto,
ainda que o presidente da sigla tenha declarado apoio a Lula.
A proposta passou num placar apertado (312
votos, quando eram necessários 308), que ainda pode ser revertido numa segunda
votação na Câmara ou depois, no Senado. O resultado, porém, já mostrou a força
de uma máquina de dinheiro público que é capaz de atropelar interesses
políticos.
Algumas reações indicaram que existe um
abismo dentro dos partidos. Ciro Gomes
criticou os pedetistas por acreditar que o comportamento
pró-governo nessa votação pode enfraquecer sua plataforma para 2022. Os
deputados, no entanto, priorizaram o direcionamento de verba para as bases
eleitorais, fundamental para sua própria sobrevivência política.
Ainda que o placar mude nas próximas
votações, Bolsonaro e Lira já exibiram o jogo de ferramentas que têm em mãos
para atingir seus objetivos políticos. O presidente quer abrir os cofres
para melhorar suas
chances de reeleição, enquanto o chefe da Câmara opera o Orçamento
para ampliar sua influência dentro do Congresso. O feirão está aberto para
impulsionar esse consórcio.
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