O Estado de S. Paulo.
O tema central dos principais bancos centrais de todo o mundo será o controle da inflação
Na semana passada nada menos do que 11
bancos centrais – entre países desenvolvidos, emergentes e subdesenvolvidos –
elevaram suas taxas básicas de juros, em meio a um inimigo comum ao redor do
globo: a inflação alta.
Além disso, o BC mais importante do mundo,
o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, acelerou a retirada dos estímulos
monetários adotados durante a pandemia de covid e sinalizou que iniciará um ciclo
de alta de juros mais cedo do que previsto, provavelmente até junho do ano que
vem. E até o reticente Banco Central Europeu (BCE) adotou uma postura monetária
mais restritiva.
Os dirigentes de todos esses bancos centrais deixaram para um segundo plano a preocupação com o impacto à atividade econômica com o aumento de casos de covid em razão da nova cepa, a Ômicron, o que já forçou, por exemplo, alguns países europeus a voltar a impor medidas mais duras de distanciamento social.
A decisão que mais surpreendeu, na semana
passada, foi a elevação dos juros pelo Banco da Inglaterra (de 0,10% para
0,25%). O Reino Unido tem sido um dos mais atingidos pela Ômicron, com aumento
de casos e de mortes, mas mesmo assim optou por combater a recente escalada da
inflação.
Esse parece que será o tema dominante entre
os principais bancos centrais, ao menos no primeiro semestre de 2022: a
necessidade de controlar a inflação e as expectativas inflacionárias vai ser a
prioridade em detrimento ao temor de uma desaceleração maior da economia.
Um levantamento do Pew Research Center, um
“think tank” com sede em Washington, mostrou que, durante o terceiro trimestre
deste ano em comparação com igual trimestre de 2019, antes da pandemia, a
inflação foi mais elevada em 39 dos 46 países pesquisados.
Em 16 desses países, incluindo os EUA, o
índice de preços ao consumidor ficou mais de dois pontos porcentuais acima
entre julho e setembro deste ano em relação ao mesmo período de 2019. E o
Brasil lidera esse ranking, com o IPCA cerca de seis pontos porcentuais mais
alto no período pesquisado.
Em comum a quase todos os países, a
inflação maior foi resultado de preços de energia mais altos; de gargalos na
cadeia mundial de produção, afetando a oferta de insumos; e de demanda mais
aquecida de consumidores com a reabertura das economias após avanço da
vacinação contra covid.
Esse movimento praticamente sincronizado de
alta de juros pelos bancos centrais terá um efeito adverso, em particular,
sobre países emergentes: o aperto das condições financeiras. Remédio amargo
para essas economias.
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