Folha de S. Paulo
Bom saber que o Brasil é craque em
aviõezinhos de papel
Há duas semanas, o Museu do Amanhã, aqui no
Rio, abrigou a decisão da etapa brasileira do Campeonato Mundial de Aviãozinho de Papel. Não ria. Os
vencedores foram Pedro Capriotti e Isaac Queiroz, paranaenses. Pedro foi o
campeão na modalidade tempo no ar, com 7s61, e Isaac, na de distância
percorrida, com 40,3 metros. Eles derrotaram 600 concorrentes em eliminatórias
disputadas durante meses pelo país. Os dois partem agora para representar o
Brasil na grande final em Salzburgo, Áustria, contra 60 países.
Se você acha o assunto irrelevante, experimente fazer um aviãozinho de papel —sabe fazer um, não?— e atirá-lo. Aposto que ele subirá meio metro, se tanto, e descerá vergonhosamente de bico contra o chão. Na mão dos campeões, no entanto, a aeronave já parte sabendo a distância a atingir e o tempo a se manter em voo. E, se o vento e a pressão atmosférica forem favoráveis, eles se arriscam até a piruetas. É um esporte, e proponho a sua inclusão nos próximos Jogos Olímpicos.
Mas, de fato, pode-se perguntar que importância
tem isso, diante do desmonte do Brasil promovido por Jair Bolsonaro com a
complacência de parte do Congresso, do Poder Judiciário e das Forças Armadas.
Com as instituições, a economia e o
espírito nacional em ruínas, como ter cabeça para um brinquedo tão infantil?
Dúvida parecida se pôs em 1965, quando um
grupo de foliões cariocas criou a Banda de Ipanema e foi cobrado por setores da
esquerda. A Banda seria um desaforo diante da ditadura que então começava. E
olhe que todos os seus membros eram de esquerda. Só que da esquerda festiva,
como eles se definiam. A ideia era: se já sofremos a opressão da ditadura,
ainda temos de nos oprimir a nós mesmos?
Os aviõezinhos de papel não derrubarão nem
sustentarão Bolsonaro. Mas é bom saber que, em dias mais felizes, eles serão
uma brincadeira a que poderemos nos dedicar sem culpa.
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