domingo, 17 de março de 2024

Dorrit Harazim – Distâncias

O Globo

Quem deve decidir quanto a liderança de Netanyahu é problemática são os próprios israelenses, por óbvio

Na semana passada houve júbilo no grupo de terráqueos que há 47 anos acompanha a odisseia das naves gêmeas Voyager 1 e 2. Consideradas tesouro nacional pelos americanos, elas são as duas “criaturas” mais paparicadas e estimadas da agência espacial dos Estados Unidos (Nasa). Só que, desde novembro último, criador e criatura deixaram de falar a mesma língua. Em vez de transmitir dados por meio da linguagem binária com que fora programada, a Voyager 1 passou a emitir apenas um ruído contínuo, indecifrável, semelhante ao sinal de ocupado de um telefone comum.

O enguiço durou quatro longos meses e parecia prenunciar um tristonho réquiem. Na tarde de quarta-feira, porém, sem avisar, a nave se fez viva, pareceu querer restabelecer o diálogo com os humanos. A partir de alguma localização interestelar, emitiu um sinal que percorreu 22 horas e meia até chegar aos computadores da Nasa, e esse fragmento de linguagem conseguiu ser parcialmente decodificado. Para uma das veteranas do projeto, que acabara de se formar em 1977 quando a primeira sonda foi lançada, o sinal recebido na semana passada lhe deu alegria só comparável ao restabelecimento de um batimento cardíaco.

As Voyagers 1 e 2 foram os primeiros objetos fabricados pelo ser humano a trafegar mais de 20 bilhões de quilômetros até alcançar o espaço interestelar. É uma odisseia sem fim: da Terra ao sistema solar exterior, de lá rumo ao infinito desconhecido. Uma das missões da primeira nave consistiu em explorar um fenômeno que só ocorre uma vez a cada 175 anos — o alinhamento espacial de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Sua nave gêmea, enquanto isso, enviava dados sobre os planetas glaciais gigantes. Encerrada essa fase, deixaram a esfera dos planetas conhecidos, saíram da zona de influência solar e seguiram rotas diferentes na escuridão espacial.

Aos poucos, inexoravelmente, as naves haverão de se distanciar ainda mais de nós — o tempo de leitura desta coluna equivale a 16 mil quilômetros a mais percorridos pela Voyager 1 no espaço sideral. Por fim, as gêmeas outrora tagarelas, pelas quais os integrantes do programa desenvolveram apego quase existencial, haverão de se calar para sempre. Permanecerão apenas na nossa memória.

Assim como as sondas, também nós, bípedes, enferrujamos e envelhecemos, nos desgarramos da rota que nos foi designada. Por vezes, perdemos o comando da linguagem e os códigos de entendimento mínimo. Tome-se o exemplo do impasse em Gaza. A solução é gritante, para além da fúria terrorista desencadeada pelo Hamas no 7 de Outubro e do morticínio indiscriminado de civis encurralados, ordenado por Benjamin Netanyahu. A solução é a mesma de quatro guerras anteriores. Portanto é conhecida, nem sequer necessita de alterações profundas. Tampouco é um planeta novo à espera de ser descoberto, já está tudo mapeado. Aguarda apenas uma concertação de líderes dispostos a pagar uma dívida histórica com todo um povo: a criação de um Estado Palestino soberano, determinado a reconhecer e a conviver com o vizinho Israel.

Três dias atrás, em Washington, o veteraníssimo líder do Partido Democrata no Senado, Chuck Schumer, apoiador histórico da causa israelense, abalou o statu quo ao afirmar que Israel deveria convocar eleições para abrir novos caminhos — leia-se, para derrotar Netanyahu nas urnas. Vale mencionar que Schumer, antes de fazer discurso tão radical, submeteu-o à apreciação do presidente Joe Biden. (A última vez em que um presidente dos Estados Unidos se deu ao direito de derrubar um governante indigesto foi no Iraque de 2003 — e terminou péssimo.) No mesmo dia, em artigo para o New York Times, o colunista Thomas Friedman alertou que a situação atual de Israel se torna “radioativa”. “Israel tem um primeiro-ministro que aparentemente prefere ver Gaza transformada numa Somália em mãos de senhores da guerra” — escreveu ele — a em mãos de alguma autoridade palestina.

Quem deve decidir quanto a liderança de Netanyahu é problemática são os próprios israelenses, por óbvio. Da mesma forma, cabe às esclerosadas lideranças palestinas abandonar o conforto em que se encastelaram. Se desse horror todo não emergir uma solução capaz de abrigar os dois povos, é porque estamos mais distantes da civilização do que a Voyager 1 está da Terra.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

TERRORISTA NÃO É GENTE
DITADOR NÃO É GENTE
APOIADOR DE TERRORISTAS NÃO É GENTE
■■O máximo que se pode esperar de terroristas é que cumpram horário.
■Gaza é um território dominado por terroristas sustentados por ditaduras diversas, especialmente Irã, Síria e Rússia, que os instrumentaliza.

■Ainda agora os terroristas do Hamas desfecharam mais um horror em Israel, exigindo que Israel mantenha fortalecido seu escudo de proteção antimísseis e com isso não conseguindo atender a outra democracia que precisa ser protegida, a Ucrânia, agredida que está pelas ditaduras para ser mantida à força sob a dominação do ditador Vladimir Putin.

Com o ataque do Hamas a Israel e a ação coordenada dos terroristas do Hezboláh e do Houthis para o lançamento de mísseis, Israel não pôde transferir seu escudo de proteção à Ucrânia, que continua sendo dizimada pela ditadura da Rússia com apoio de todos os antiliberais e antidemocratas do mundo, incluindo Lula, o PT, o PCdoB e o PSOL.

Anônimo disse...

SIM, OS PALESTINOS SÃO VÍTIMAS
■Os palestinos são tão vítimas dos terroristas e das ditaduras quanto os israelenses. E no caso dos palestinos pesa a negligência dos democratas em não ter, por décadas, combatido os terroristas de forma definitiva, o que impediu até hoje que surja um Estado Palestino por o Hamas não aceitar a Solução de Dois Estados e a existência de Israel no território.

As democracias sempre refrearam o combate ao Hamas por causa da tática fúnebre dos terroristas de se misturarem aos civis, se vestirem como civis e usarem o lugar de vida e os corpos dos palestinos para não serem combatidos. A qualquer externalidade que o combate aos terroristas cause, as ditaduras acionarão sempre seus associados dentro das próprias democracias para baterem bumbos e gritarem a propaganda dos terroristas, usando para isto os dados e os termos que são em si terroristas:: "Genocidas!" , "Assassinos!", termos escolhidos para escandalizar e assim conseguirem, mais uma vez, que os soldados da democracia recuem e que os terroristas fiquem intactos, sem se importarem verdadeiramente, estes apoiadores de terroristas e de ditaduras, com o destino dos palestinos, como não se importam com os destinos de Israel por esta ser uma democracia, o que é péssimo exemplo às ditaduras e terroristas das proximidades.

Anônimo disse...

SEM COMBATE AOS TERRORISTAS
SEM SOLUÇÃO PARA ISRAEL E PARA PALESTINOS
■E, pior:: dada a dificuldade de democratas lidarem com os terroristas, devido à tática covarde do Hamas, com os anos parte dos israelenses passaram a ver a truculência pé-no-peito de Netanyaho como uma opção de proteção contra o outro mal.

■Que os bem treinados soldados da democracia de Israel desta vez façam o trabalho completo de desmantelar o Hamas e o Herzboláh, para que seja resolvido o drama dos israelenses e que se encaminhe concretamente a solução para o drama dos palestinos. Mas que se encaminhe!

■Vai durar dois anos, quatro anos, o combate efetivo ao Hamas? Gaza precisará ser mantida por muitos anos sob a intervenção dos soldados da democracia? Que seja! Mas que desta vez as ditaduras não consigam no grito interromper o combate aos terroristas.

■Que as ditaduras, os terroristas e seus apoiadores fiquem gritando sozinhos, incluídos Lula, o PT, o PCdoB e o PSOL.
■VIVA O POVO DE ISRAEL !
■VIVA O POVO PALESTINO !
■VIVA A DEMOCRACIA !
●ABAIXO OS ANTILIBERAIS E ANTIDEMOCRACIA !

ADEMAR AMANCIO disse...

Verdade.