quarta-feira, 19 de junho de 2024

Bruno Boghossian – A janela do governo

Folha de S. Paulo

Pesquisa traduz azedume, mas mostra que Lula está longe de uma crise de confiança nas ruas

Lula entrou em seu segundo ano de governo com uma virada de maré nos sentimentos da população sobre a economia. Desde dezembro, a avaliação positiva sobre a situação econômica do país caiu seis pontos. O eleitor demonstrou mais desconforto com sua condição pessoal e exibiu menos otimismo em relação aos próximos meses.

Se o presidente buscar uma boa notícia na nova pesquisa do Datafolha, poderá ver que os índices de percepção sobre a economia pararam de cair. O percentual de entrevistados que consideram que a própria situação pessoal piorou nos últimos meses passou de 28% para 24%. A variação foi puxada principalmente pelos jovens e pelos mais pobres.

Os números sugerem, por outro lado, uma incerteza do eleitor nessa área. Um dos indícios é o contraste particularmente agudo entre a avaliação feita da porta para dentro e da porta para fora. Depois de subir seis pontos na virada do ano, a percepção de que a situação econômica do país piorou ainda oscilou para cima e chegou a 42%.

Nesse quesito, a variação negativa foi praticamente generalizada —entre pobres e ricos, em quase todas as regiões (à exceção do Nordeste). Trata-se de um quadro que reforça a hipótese de uma percepção menos vinculada a sensações sobre os efeitos da economia na ponta (emprego e inflação) e mais permeável a contaminações externas.

desafio adicional para Lula é o fato de que uma fatia dos eleitores deixou para trás parte do otimismo com a economia. O percentual de entrevistados que afirmam que a situação do país vai melhorar caiu de 47% para 40% desde o ano passado e não se recuperou. No caso da expectativa pessoal, passou de 62% para ainda altos 55%.

A pesquisa traduz em números o azedume com a economia, mas mostra que Lula está longe de uma crise de confiança nas ruas. O governo mantém aberta uma janela para mostrar a que veio para um eleitor que parece não se contentar com resultados tímidos.

 

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