O Estado de S. Paulo
O mercado espera que o Copom mantenha a Selic e também revise para cima as projeções de inflação
Depois do grande estresse no mercado com o
placar dividido na última decisão do Copom, em maio, analistas e investidores
têm uma única certeza para o desfecho da reunião de hoje: o ciclo de corte de
juros será interrompido e a taxa Selic será mantida em 10,50%, numa votação
unânime pelos diretores do Banco Central.
Em razão da polêmica na última reunião, as expectativas inflacionárias de 2024 e de 2025 não pararam de subir e se distanciaram cada vez mais da meta de 3% perseguida pelo BC. Além disso, a piora na percepção do risco fiscal e os ruídos políticos – envolvendo até um aparente enfraquecimento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad – empurraram o dólar de uma cotação de R$ 5,09, no dia do anúncio da última reunião do Copom, para quase R$ 5,43 no auge do nervosismo na semana passada. Uma desvalorização cambial dessa magnitude, se prolongada, acaba sendo repassada para os preços na economia.
A melhor forma com que o Copom poderia ajudar
para acalmar os nervos dos investidores em relação à turbulência atual dos
ativos brasileiros será com uma decisão unânime, eliminando a polarização
observada na última reunião, quando os quatro diretores indicados pelo
presidente Lula votaram contra a desaceleração do ritmo de corte de juros
endossada pela maioria. O placar dividido reacendeu temores do mercado de uma
política monetária menos austera e mais tolerante à inflação a partir de 2025,
quando o comando do BC passará para um substituto de Roberto Campos Neto a ser
nomeado por Lula.
Além disso, se espera que o comunicado do
Copom não somente sinalize que manterá a Selic em nível restritivo o suficiente
para atingir a meta de inflação e que os próximos passos da política monetária
serão dependentes dos índices de preços e dos dados de atividade econômica, mas
também que o BC revise para cima as projeções de inflação de 2024 e de 2025,
afetando 2026, mesmo com os juros parando acima do que se esperava
inicialmente.
Mas será tudo isso suficiente para recuperar
a confiança na política monetária? A dúvida é se o Copom irá endereçar o bode
na sala: uma parcela do mercado passou a apostar que o BC terá de voltar a
elevar os juros ainda em 2024, diante da deterioração das expectativas
inflacionárias, da piora do risco fiscal e de um mercado de trabalho muito
aquecido, o que pode levar a um repique da inflação. A curva de juros está
precificando mais de duas altas da Selic até o fim do ano. Se o governo não
recuperar a credibilidade do arcabouço fiscal, o mercado pode exigir juros mais
altos do que 10,50%.
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