A França, e com ela a Europa, preparam-se para a votação decisiva no domingo, quando as urnas decidirão a extensão da vitória da direita. Pois bem, quando faltam apenas cinco dias para a votação, a notícia é que para evitar que Le Pen obtenha a maioria absoluta, uma onda de pactos de desistência foi registada ontem nas zonas eleitorais onde ocorrerá o segundo turno. 218 candidatos pertencentes às diversas siglas que disputam o voto da direita desistiram de concorrer. A razão é um possível impasse que concretiza o pesadelo destas semanas: um quadro da ingovernabilidade do país. É por isso que Macron começa a avaliar a hipótese de um governo provisório (técnico) que reúna uma maioria politicamente heterogênea, mas necessária para manter Le Pen fora do governo do país.
Os resultados da votação, embora ainda incertos, já começam a produzir efeitos fora das fronteiras francesas. Com Mateo Salvini que, no Parlamento Europeu, abraça Orbàn e os “patriotas” checos e austríacos, que tentam isolar politicamente Georgia Meloni e o seu grupo ECR (Conservadores Reformistas). Uma Meloni que de fato responde ao seu vice-primeiro-ministro com evidente aborrecimento, definindo a medida como “um ato hostil”.
Os acontecimentos franceses cruzam-se com os americanos, com a incerteza em torno da manutenção da candidatura de Biden. A ponto de convencer Nancy Pelosi, totem da ala liberal do Partido Democrata, a sair reconhecendo e enfatizando que “é certo questionar a saúde” do presidente cessante. Ainda mais - como explica o cientista político Walzer - no rescaldo da decisão do Supremo Tribunal sobre Trump que altera a natureza constitucional da figura do presidente dos Estados Unidos ao reconhecê-lo como um cidadão imune - um escudo que “abre o risco de uma ditadura”.
Um cenário sombrio, com a única exceção da vitória esmagadora que o Partido Trabalhista de Starmer parece que conquistará na Inglaterra na votação desta semana.
Um cenário sobre o qual Bernard Guetta escreve, num comentário muito aprofundado, alertando-nos que, apesar deste momento dramático para as democracias ocidentais, uma coisa pode ser dada como certa: que a democracia não está morta.
O ex-secretário do Partido Democrático e novo eurodeputado, Nicola Zingaretti, também fala sobre os cenários políticos futuros, neste caso para os italianos. E fá-lo apontando como, tal como a França, o nosso país também pode dizer que tem agora a sua própria “Frente Popular”. Com uma diferença, porém, em relação à França. “Tendo conquistado o centro” ao solicitar uma possível vingança e vitória à direita de Meloni e Salvini. Palavras que vêm acompanhadas de um discurso do filósofo Stefano Bonaga que, desde a sua Bolonha natal, dirige uma “proposta modesta” ao campo “elástico” dos progressistas: começar a pensar numa possível alternativa à direita, não partindo de possíveis alianças , mas da mobilização em territórios de energia e poder que cada cidadão-eleitor é capaz de exercer no seu espaço público.( Tradução e adaptação de Alberto Aggio)
*Editor do La Republica, 03 de julho de 2024
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