O Estado de S. Paulo
Pode parecer paradoxal, mas
não é. O tarifaço do presidente Trump chegou como um golpe de tacape, mas o
mercado até comemorou: previa-se o pior, que acabou não se concretizando porque
o decreto isentou boa parte dos produtos mais importantes que antes estavam sob
ameaça.
Escaparam da pancada aviões
da Embraer, celulose, suco de laranja, minérios e certos produtos da Weg. Da
pauta de exportações do Brasil, itens que não escaparam foram calçados, carnes,
café e algumas frutas, como as mangas.
Isso explica por que, desse ponto de vista, o tarifaço produziu certo alívio por aqui. Sobre o PIB brasileiro, provavelmente não produzirá um impacto superior a 1%, e não mais os cerca de 4% previstos se todos os produtos fossem igualmente atingidos pela mega tarifa de 50%. É o que explica a alta de quase 1% na Bolsa, a esticada de 11% nas ações da Embraer, de 0,64% nas ações da Suzano e 0,74% nos papéis da Weg.
Ainda assim, é preciso ver
quais serão as maiores vítimas entre os exportadores brasileiros para os
Estados Unidos, além dos pecuaristas, cafeicultores, de certos produtores de
frutas frescas e de calçadistas.
Ao contrário do que
aconteceu com outros países ou blocos de países, esse tarifaço não foi
consequência de nenhuma negociação, ainda que desigual. Foi resultado de
imposição unilateral dos Estados Unidos.
Os problemas de comércio
exterior foram esgarçados. Em alguns casos, as perdas setoriais não podem ser
ignoradas. Mas, olhando com casca e tudo, o impacto econômico pode ser
absorvido, desde que o governo Lula não apele para revides de peso pena em cima
do peso pesado, na base do respeito ao princípio de reciprocidade e tal.
Ninguém imaginava que, na
cabeça de Trump, o Brasil fosse uma ameaça tão grande para a salvação do
império, a ponto de merecer tudo isso.
A questão política, a
geopolítica e a das relações institucionais têm natureza e desenlace mais
complicado.
Se havia alguma dúvida, não
há mais. Os ataques de Trump tiveram pelo menos três grandes objetivos. O
primeiro deles, foi bombardear a atuação do juiz do Supremo Alexandre de Moraes
tanto no julgamento do ex-presidente Bolsonaro por tentativa de golpe de
Estado, como na atuação das big techs. Por aí, há não apenas uma tentativa de
interferência brutal na operação de um organismo independente, de Estado, o
Supremo, mas, também, de tentar viabilizar a candidatura de Bolsonaro para as
eleições de 2026.
Segundo, Trump agiu para
inibir qualquer tentativa do presidente Lula e dos dirigentes do Brics de tirar
força do dólar como meio de pagamento internacional e como moeda global de
reserva, mediante a utilização de moedas do grupo para liquidar transações
dentro do bloco.
O terceiro objetivo,
provavelmente mais importante, é desviar o Brasil e outros países emergentes da
influência cada vez maior da China e da Rússia.
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