quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Quaest provoca ‘choque de realidade’ na Faria Lima sobre candidatura de Flávio

Por Gabriel Roca e Victor Rezende / Valor Econômico

Ativos domésticos tiveram dia negativo desde o início do dia com resultado de pesquisa de intenção de voto

Não há dúvida de que o mercado tem operado, cada vez mais, à luz da probabilidade de cada candidato vencer as eleições presidenciais de 2026. A dinâmica dos negócios nesta terça-feira deixou a hipótese clara. Sob rumores, confirmados mais tarde, de que pesquisas indicavam que a candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) vem ganhando força, agentes voltaram a aumentar a proteção das carteiras, o que se traduziu em queda da bolsa, alta do dólar e dos juros futuros.

A interpretação que corre nas mesas de operação — e nos preços dos ativos financeiros — é nítida: a chance de o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro derrotar Lula no pleito do ano que vem é pequena. E os sinais de que a candidatura será mantida devem continuar gerando correções negativas no mercado.

Na última sexta-feira, um evento organizado por uma corretora reuniu mais de 300 profissionais das mais renomadas gestoras de recursos e instituições financeiras do mercado local. Ali, foram apresentados números de uma pesquisa divulgada em primeira mão para os clientes da empresa.

Após a apresentação dos dados, a conclusão anunciada pelos responsáveis pelo levantamento era a de que há dois grandes perdedores com a pré-candidatura de Flávio: Michelle Bolsonaro e Tarcísio de Freitas.

A primeira, na visão dos profissionais, teria sido preterida pelo marido, a despeito do recente ganho de tração política e sinais de competitividade que vinha angariando. Já o governador de São Paulo, na análise compartilhada com o mercado, vinha mostrando claros sinais de ascensão nos últimos levantamentos e poderia ter seu lugar na urna ocupado pelo filho de Bolsonaro, que se mostrava menos competitivo que Lula.

Não é à toa que a pesquisa Quaest divulgada hoje voltou a imprimir uma volatilidade nos mercados não vista desde o anúncio da candidatura de Flávio, em 5 de dezembro. Primeiro, os números que circulavam nas mesas já mostravam que Flávio havia crescido nas pesquisas e, por isso, a interpretação inicial dos agentes foi a de que o “Zero Um” teria muito menos incentivos a retirar a candidatura em prol de Tarcísio, que aparece como o nome preferido do mercado.

Foi por isso também que a confirmação de que os rumores eram verdadeiros, com a divulgação oficial da pesquisa durante a tarde, trouxe certo alívio aos preços dos ativos locais, ainda que de forma bastante pontual.

Segundo o estrategista de uma importante instituição financeira, os mercados se apegaram à informação de que 54% dos entrevistados acreditavam que Bolsonaro havia cometido um erro ao escolher Flávio, e que 62% deles não votariam no filho do ex-presidente. “A suposição é a de que, no futuro, números como esses poderiam ajudar a persuadir Flávio Bolsonaro a se afastar. Mas isso requer acreditar que sua candidatura é realmente negociável — uma suposição que merece ser vista com cautela”, ressalta.

Em condição de anonimato, o profissional de uma das maiores gestoras do Brasil faz um cálculo de probabilidades condicionais para explicar a lógica da reação dos preços do mercado à candidatura de Flávio.

Na sua avaliação, em um pleito entre Lula e Tarcísio, grosso modo, cada um dos candidatos teria 50% de chances de vencer. Flávio, na sua opinião, teria uma chance bem menor de triunfar no segundo turno, contra Lula, de aproximadamente 10%.

Agora, se Flávio tem 60% de chance de manter sua candidatura e ser o candidato da oposição, as chances de uma mudança na política econômica do país a partir de 2027 caem de 50% para 26%.

E, por isso, os preços deveriam se ajustar a essa nova realidade. É o que vem acontecendo a cada sinal de que o pleito do ano que vem pode, de fato, ser uma reedição de 2022.

 

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