Por Gabriel Roca e Victor Rezende / Valor Econômico
Ativos domésticos tiveram dia negativo desde o início do dia com resultado de pesquisa de intenção de voto
Não há dúvida de que o mercado tem operado,
cada vez mais, à luz da probabilidade de cada candidato vencer as eleições presidenciais
de 2026. A dinâmica dos negócios nesta terça-feira deixou a hipótese clara. Sob
rumores, confirmados
mais tarde, de que pesquisas indicavam que a candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ)
vem ganhando força, agentes voltaram a aumentar a proteção das carteiras, o que
se traduziu em queda da bolsa, alta do dólar e dos juros futuros.
A interpretação que corre nas mesas de operação — e nos preços dos ativos financeiros — é nítida: a chance de o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro derrotar Lula no pleito do ano que vem é pequena. E os sinais de que a candidatura será mantida devem continuar gerando correções negativas no mercado.
Na última sexta-feira, um evento organizado
por uma corretora reuniu mais de 300 profissionais das mais renomadas gestoras
de recursos e instituições financeiras do mercado local. Ali, foram
apresentados números de uma pesquisa divulgada em primeira mão para os clientes
da empresa.
Após a apresentação dos dados, a conclusão
anunciada pelos responsáveis pelo levantamento era a de que há dois grandes
perdedores com a pré-candidatura de Flávio: Michelle Bolsonaro e Tarcísio de
Freitas.
A primeira, na visão dos profissionais, teria
sido preterida pelo marido, a despeito do recente ganho de tração política e
sinais de competitividade que vinha angariando. Já o governador de São Paulo,
na análise compartilhada com o mercado, vinha mostrando claros sinais de
ascensão nos últimos levantamentos e poderia ter seu lugar na urna ocupado pelo
filho de Bolsonaro, que se mostrava menos competitivo que Lula.
Não é à toa que a pesquisa Quaest divulgada
hoje voltou a imprimir uma volatilidade
nos mercados não vista desde o anúncio da candidatura de Flávio, em 5 de
dezembro. Primeiro, os números que circulavam nas mesas já mostravam que
Flávio havia crescido nas pesquisas e, por isso, a interpretação inicial dos
agentes foi a de que o “Zero Um” teria muito menos incentivos a retirar a
candidatura em prol de Tarcísio, que aparece como o nome preferido do mercado.
Foi por isso também que a confirmação de que
os rumores eram verdadeiros, com a divulgação oficial da pesquisa durante a tarde,
trouxe certo alívio aos preços dos ativos locais, ainda que de forma bastante
pontual.
Segundo o estrategista de uma importante
instituição financeira, os mercados se apegaram à informação de que 54% dos
entrevistados acreditavam que Bolsonaro havia cometido um erro ao escolher
Flávio, e que 62% deles não votariam no filho do ex-presidente. “A suposição é
a de que, no futuro, números como esses poderiam ajudar a persuadir Flávio
Bolsonaro a se afastar. Mas isso requer acreditar que sua candidatura é realmente
negociável — uma suposição que merece ser vista com cautela”, ressalta.
Em condição de anonimato, o profissional de
uma das maiores gestoras do Brasil faz um cálculo de probabilidades
condicionais para explicar a lógica da reação dos preços do mercado à
candidatura de Flávio.
Na sua avaliação, em um pleito entre Lula e
Tarcísio, grosso modo, cada um dos candidatos teria 50% de chances de vencer.
Flávio, na sua opinião, teria uma chance bem menor de triunfar no segundo
turno, contra Lula, de aproximadamente 10%.
Agora, se Flávio tem 60% de chance de manter
sua candidatura e ser o candidato da oposição, as chances de uma mudança na
política econômica do país a partir de 2027 caem de 50% para 26%.
E, por isso, os preços deveriam se ajustar a
essa nova realidade. É o que vem acontecendo a cada sinal de que o pleito do
ano que vem pode, de fato, ser uma reedição de 2022.

Nenhum comentário:
Postar um comentário