Adriana Vasconcelos
DEU EM O GLOBO
Popularidade recorde de Lula, aliada ao bom desempenho da economia, inibe ação de partidos contra o governo
BRASÍLIA. "Saiu de moda fazer oposição no Brasil". O desabafo feito semana passada pelo senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, maior e mais importante partido de oposição ao governo Lula, dá a noção exata da angústia dos que se dispõem a essa tarefa hoje no país. Cientistas políticos reconhecem a dificuldade em se contrapor a um presidente que bate recordes de popularidade - segundo pesquisa Datafolha divulgada sexta-feira, ele conta com a aprovação de 64% dos brasileiros.
Eles afirmam, porém, que nem por isso a oposição corre o risco de acabar, e ressaltam que a adesão em massa à situação não é privilégio apenas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É um cenário que se repete em muitos estados.
- Realmente, o caminho da oposição tem sido muito árduo. Isso porque os modelos de gestão são muito parecidos, e a oposição, quase sempre, tem muito pouco a inovar. Mas ela sempre vai ter o seu lugar - aposta o professor de ciência política da PUC de Minas Gerais Malco Braga Camargo.
"Diante de governos bem avaliados, soa mal criticar"
Na sua opinião, o quadro se repete em alguns estados até com intensidade maior. Minas é um exemplo disso, onde o governador tucano Aécio Neves, assim como o presidente Lula, tem o apoio de uma ampla base política, e a oposição ao seu governo é praticamente inexistente. Na capital, Belo Horizonte, não é diferente, e verifica-se que há pelo menos 16 anos o mesmo grupo político, integrado pelo PT, se reveza na prefeitura.
- Diante de governos bem avaliados, soa mal para a oposição criticar o poder vigente, tanto que na maior parte das campanhas eleitorais hoje no país os candidatos disputam para ver quem incorpora melhor a continuidade da situação - acrescenta Camargo.
O cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília (UnB), considera exagerado o desabafo de Guerra. Mas reconhece que a satisfação da população com a economia favorece os candidatos identificados com o governo Lula:
- O governo tem formatado vários projetos que deixaram a economia bombando. Isso aumenta a sensação de satisfação do eleitor e deverá ter um impacto nas eleições municipais. Entre os candidatos que estão liderando a disputa nas 26 capitais, 20 são de partidos da base governista. E entre os seis de oposição, há candidatos, como a do PV em Natal, Micarla de Souza, que diz que seu partido pode até fazer oposição ao presidente Lula, mas ela não. Ou seja, menos uma na oposição.
Mais do que pertencer ao PV - dividido em relação ao governo Lula -, Micarla disputa com apoio do DEM, o segundo maior partido de oposição a Lula, para se contrapor à candidata do PT, Fátima Bezerra. Ainda assim não faz oposição ao presidente.
Animado com o desempenho dos candidatos da base, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) prevê uma vitória "estrondosa" de seu partido e dos aliados nas eleições municipais e aproveita para alfinetar os poucos adversários que insistem em se opor ao governo Lula. Em São Paulo mesmo, segundo ele, o PSDB só lidera a disputa em dois municípios (entre os grandes), Piracicaba e Sorocaba.
DEU EM O GLOBO
Popularidade recorde de Lula, aliada ao bom desempenho da economia, inibe ação de partidos contra o governo
BRASÍLIA. "Saiu de moda fazer oposição no Brasil". O desabafo feito semana passada pelo senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, maior e mais importante partido de oposição ao governo Lula, dá a noção exata da angústia dos que se dispõem a essa tarefa hoje no país. Cientistas políticos reconhecem a dificuldade em se contrapor a um presidente que bate recordes de popularidade - segundo pesquisa Datafolha divulgada sexta-feira, ele conta com a aprovação de 64% dos brasileiros.
Eles afirmam, porém, que nem por isso a oposição corre o risco de acabar, e ressaltam que a adesão em massa à situação não é privilégio apenas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É um cenário que se repete em muitos estados.
- Realmente, o caminho da oposição tem sido muito árduo. Isso porque os modelos de gestão são muito parecidos, e a oposição, quase sempre, tem muito pouco a inovar. Mas ela sempre vai ter o seu lugar - aposta o professor de ciência política da PUC de Minas Gerais Malco Braga Camargo.
"Diante de governos bem avaliados, soa mal criticar"
Na sua opinião, o quadro se repete em alguns estados até com intensidade maior. Minas é um exemplo disso, onde o governador tucano Aécio Neves, assim como o presidente Lula, tem o apoio de uma ampla base política, e a oposição ao seu governo é praticamente inexistente. Na capital, Belo Horizonte, não é diferente, e verifica-se que há pelo menos 16 anos o mesmo grupo político, integrado pelo PT, se reveza na prefeitura.
- Diante de governos bem avaliados, soa mal para a oposição criticar o poder vigente, tanto que na maior parte das campanhas eleitorais hoje no país os candidatos disputam para ver quem incorpora melhor a continuidade da situação - acrescenta Camargo.
O cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília (UnB), considera exagerado o desabafo de Guerra. Mas reconhece que a satisfação da população com a economia favorece os candidatos identificados com o governo Lula:
- O governo tem formatado vários projetos que deixaram a economia bombando. Isso aumenta a sensação de satisfação do eleitor e deverá ter um impacto nas eleições municipais. Entre os candidatos que estão liderando a disputa nas 26 capitais, 20 são de partidos da base governista. E entre os seis de oposição, há candidatos, como a do PV em Natal, Micarla de Souza, que diz que seu partido pode até fazer oposição ao presidente Lula, mas ela não. Ou seja, menos uma na oposição.
Mais do que pertencer ao PV - dividido em relação ao governo Lula -, Micarla disputa com apoio do DEM, o segundo maior partido de oposição a Lula, para se contrapor à candidata do PT, Fátima Bezerra. Ainda assim não faz oposição ao presidente.
Animado com o desempenho dos candidatos da base, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) prevê uma vitória "estrondosa" de seu partido e dos aliados nas eleições municipais e aproveita para alfinetar os poucos adversários que insistem em se opor ao governo Lula. Em São Paulo mesmo, segundo ele, o PSDB só lidera a disputa em dois municípios (entre os grandes), Piracicaba e Sorocaba.
- Nós (do PT) demoramos para nos tornamos uma oposição competente. A oposição precisa ser programática. Não há mais espaço para aventureiros nem oportunistas que torcem para o quanto pior melhor. O povo está feliz e é situacionista - ensina Mercadante, que muitas vezes viu seu partido, quando oposição, ser acusado de torcer para o "quanto pior melhor".
Ex-ministro de Lula, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) lamenta que a imensa capacidade de aglutinação do presidente tenha feito recuar o nível de consciência política no país:
- Não dá para negar que o presidente Lula avançou com mais competência do que o anterior, mas sua capacidade de aglutinação representa hoje um retrocesso no nível de consciência do país. Os anos Lula serão lembrados como anos de silêncio intelectual.
Resistência maior a Lula ainda vem do Senado
Mas é no Senado hoje, na avaliação de Fleisher, onde ainda há a mais forte resistência:
- A oposição no Senado tem número suficiente para impedir a aprovação de emendas constitucionais. Foi assim que conseguiu derrubar no ano passado a prorrogação da CPMF.
Além de não garantir maioria folgada a Lula, o Senado tem os oradores mais críticos. Ainda que concorde com Guerra, que diz que "a oposição no Brasil foi revogada, saiu de moda", o também tucano Arthur Virgílio (AM) não dá trégua a Lula. Semana passada, cutucou Lula sobre o marketing que ele faz em torno Pré-Sal, e o escândalo dos grampos, quando disse que a Abin "não pode virar uma SS sem Hitler". Revezam-se com ele, na tribuna, Álvaro Dias (PSDB-PR) e Heráclito Fortes (DEM-PI). Mas, em tempos de campanha, os ataques diminuíram.
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