A conclusão do editorial do Estado de S. Paulo, de ontem– “Dilma, a Vale e a sombra de Lula” – aponta o limite básico, na esfera da economia, dos passos inovadores da nova chefe do Executivo federal: “A presidente Dilma Rousseff já mostrou, em mais de uma ocasião, diferenças importantes em relação a seu antecessor e grande eleitor. Neste caso, no entanto (a intervenção na Vale), quando se trata da fome de poder e de ambição centralizadora, a continuidade da política anterior parece garantida”. Outros trechos da matéria: “O governo venceu, depois de quase dois anos e meio de campanha contra o presidente da Vale, maior empresa privada do Brasil, segunda maior mineradora do mundo e líder mundial na extração de minérios de ferro. Roger Agnelli deixará o posto, afinal, porque o Bradesco desistiu de enfrentar a pressão do Palácio do Planalto”. “Se houve algo surpreendente não foi a rendição do Bradesco, mas sua longa resistência. Há uma enorme desproporção de forças entre o governo federal e uma instituição financeira privada. A pressão exercida a partir do Palácio do Planalto foi “massacrante”, segundo uma fonte citada pelo jornal o Globo”. “Ao insistir no afastamento de Roger Agnelli, a presidente Dilma Rousseff seguiu no caminho aberto por seu antecessor. Derrubar o presidente da Vale foi um dos grandes objetivos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
“Reestatização da empresa aumenta riscos de negócios no Brasil” – Com este ‘olho’ no editorial intitulado “Interferência política e indevida na Vale”, o Globo, também de ontem, lembra “as enormes resistências à privatização da então Companhia Vale do Rio Doce” e as dificuldades antepostas ao trabalho empresarial que se seguiu, passando depois à avaliação dos resultados obtidos: “Mesmo com todos os obstáculos iniciais, a Vale se superou, sob o comando de uma diretoria formada por profissionais capacitados. A empresa fez ousadas aquisições, multiplicou os investimentos e soube aproveitar as oportunidades que apareceram, o que provavelmente não teria ocorrido se tivesse permanecendo como estatal, pelas condições que restringem esse tipo de companhia. O resultado da mudança se traduziu em considerável aumento do valor de mercado da Vale, que, em dez anos, saltou de US$ 9,2 bilhões para US$ 176,3 bilhões”.
Compulsão intervencionista – Do editorial da Folha de sábado último, com o título “Vale tudo”: “Não será por certo o único aspecto do governo Dilma Rousseff em perfeita continuidade com o de seu padrinho e antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, mas já basta: a compulsão de interferir politicamente na gestão das maiores empresas do país. O caso mais gritante, no presente, é o da Vale. O Planalto fez de tudo para derrubar Roger Agneli, presidente da empresa, escolhido por acordo de acionistas”. “A direção da empresa responde apenas a seus acionistas, e eles têm motivos de sobra para satisfação. A Vale teve lucro líquido recorde de R$ 30,1 bilhões em 2010”. “Trocando em miúdos, a administração Dilma reincide em um dos piores vícios da era Lula – subordinar os interesses do público e dos investidores a maquinações
palacianas”.
E a imagem de boa gestora da presidente? – Construída com empenho, e favorecida pelo contraponto com o despreparo e o palanquismo de Lula, essa imagem é bem arranhada pela intervenção na Vale. Cujo comando por Roger Agnelli é amplamente avaliado como modelo de gestão empresarial.
O PSDB, Serra e Kassab
O jornalista Raymundo Costa, em sua coluna de ontem no Valor, intitulada “O dilema do PSDB aos 90 dias de Dilma”, detém-se na resistência de José Serra à afirmação da liderança, de Aécio Neves no partido. E torna públicas especulações sobre mais uma candidatura presidencial dele em 2014 pela nova legenda que está sendo criada, o PSD, se não for indicado pelos tucanos para a disputa. Trechos da coluna: “Para os tucanos, o ideal seria que Serra fosse candidato a prefeito de São Paulo e, 2012, principalmente se o
candidato do PT for escolhido entre a senadora Marta Suplicy e o ministro Aloizio Mercadante. Serra não gosta nem de ouvir falar no assunto. Sabe que é o fim de carreira, e em seus cálculos ainda está a presidência da República. No momento, ele precisa avançar uma posição, e é neste movimento que está integralmente empenhado. O PSDB e Aécio Neves não devem subestimar o colega tucano. Sua capacidade para intervir no jogo partidário ainda é efetiva, apesar do isolamento. Já se especula com certa naturalidade, em setores do PSDB, a hipótese sobre a qual o ex-governador paulista evita cogitações – que ele venha a se candidatar ao Planalto pelo PSD, o partido que está sendo criado por Gilberto Kassab. Sabe-se que Kassab já falou sobre isso com Serra, trata-se de uma porta aberta que o tucano não fechou. É o que, no PSDB, passou a ser chamado de “bomba atômica”, uma espécie de aviso a Aécio sobre o que ele, Serra, pode fazer caso não seja presidente do PSDB”.
Jarbas de Holanda é jornalista
(30/3/2011)
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