Absorvido em suas eleições internas, o Partido dos Trabalhadores será aconselhado a largar um pouco essa disputa para cuidar dos aliados. Desde domingo, a máxima nos partidos é a de que Dilma Rousseff agora está vulnerável. Portanto, ou arruma os palanques regionais ou terá problemas para se somar à queda de popularidade que o ministro Aloizio Mercadante chamou de “oscilação normal”. E, para arrumar esses palanques, o PT terá de rever alguns acordos internos, feitos para garantir uma eleição tranquila para Rui Falcão no Processo de Eleição Direta (PED), em novembro.
Até aqui, avaliam muitos, o PT fazia o que bem entendia nos estados. O partido lançava os candidatos que queria e os aliados que se conformassem com a situação. Afinal, Dilma como candidata à presidente embalada pela alta popularidade de Lula era considerada imbatível. O mesmo se deu nas eleições municipais, onde o PT dispensou acordos em várias capitais importantes, caso de Porto Alegre, por exemplo. No Rio de Janeiro, entretanto, apoiou Eduardo Paes, do PMDB, considerado uma exceção.
Agora, entretanto, avaliam os parlamentares aliados, o PT saiu do “imbatível” para o “se”: “se a economia reagir”, “se o poder de compra não cair ainda mais” e “se o desemprego não aumentar”. Antes, isso era restrito à oposição: “se Aécio Neves (PSDB) encontrar um discurso”, “se Marina Silva conseguir montar seu partido” ou “se Eduardo Campos se viabilizar”.
No caso de Dilma, as condicionantes ganham peso a partir de agora. E podem ficar ainda mais agudas se pesquisas mais à frente desmentirem a tese da “oscilação normal”. A ordem nos aliados não é esperar para ver e, sim, aproveitar essa depressão na avaliação da presidente para pedir, por exemplo, o palanque único no Rio de Janeiro, com a candidatura de Luiz Fernando Pezão, e também no Amazonas, onde o candidato é o líder do governo no Senado, Eduardo Braga. Ambos são do PMDB. Na avaliação dos governistas, Dilma e o PT começam a perder a condição de fazer “cara de paisagem” a esses pedidos
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Enquanto isso, no PT…
O presiente do PT, Rui Falcão, adia como pode a discussão desses palanques regionais. Isso porque tem que primeiro tratar da própria reeleição. A cúpula do partido tem defendido muitas candidaturas regionais, como a de Lindbergh Farias no Rio, de forma a resolver sem traumas o PED deste ano. E, ainda assim, Falcão também enfrenta algumas resistências localizadas. A mensagem ao partido, tendência do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que terá o ex-líder do PT na Câmara Paulo Teixeira como candidato a presidente contra Falcão.
A ordem de Teixeira e de outros pré-candidatos é abrir o debate do futuro entre os petistas. Especialmente, separando o que é objetivo do PT do que é tema de governo. Há setores da agremiação muito incomodados com a “embolada” entre governo e partido, inclusive, com as alianças que jogam a estrela vermelha mais à direita do que esperava chegar. Um exemplo é a aproximação com o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e o governador em exercício, Guilherme Afif Domingos, com quem o PT de São Paulo ainda não aprendeu a conviver.
Entre os petistas, há quem defenda um retorno às origens, ou seja, privilégio às alianças tradicionais do PT, que terminaram em posições mais periféricas. O próprio Ministério do Esporte, dominado pelo PCdoB, só ganhou fôlego e visibilidade depois que o Brasil virou sede da Copa da Fifa. Antes, não tinha tanta importância.
E no Planalto…
Apesar da reabertura desse debate dentro do PED, o PT, leia-se Dilma, não tem como dispensar qualquer aliado. Nem o próprio Lula teria essa condição hoje de “palanquear” em carreira solo. E a presidente, avaliam muitos, tem ainda mais um agravante: a classe política, se perceber que ela está à beira de um penhasco, terá a tendência de empurrá-la. Quanto à Lula, todas as vezes que ele se encontrou em uma situação semelhante, os aliados corriam para socorrê-lo. O problema é que, até o momento, os petistas consideram que não se criou as condições para um retorno seguro de Lula à condição de candidato.
Até porque foi ele quem colocou Dilma como candidata e os programas na tevê embolaram tanto os dois, que o fracasso de um pode perfeitamente refletir no outro. Diante desses imponderáveis e da vulnerabilidade que se revela nas pesquisas, o mais seguro seria mesmo amarrar os aliados. Afinal, se as próximas pesquisas continuarem registrando sintomas de desidratação, a dose do remédio — leia-se o preço dos apoios — terá que ser maior. Afinal, há um consenso na classe política de que terminou a era do “PT imbatível”. Se é assim mesmo, só o tempo dirá.
Fonte: Correio Braziliense
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