Pesquisas de opinião mostram avanço na percepção da inflação e, ao mesmo tempo, menor apoio a Dilma
Lucianne Carneiro
RIO e BRASÍLIA - A percepção do aumento da inflação saiu das ruas para as pesquisas dos institutos de opinião. Levantamentos do Instituto Datafolha e do instituto MDA, encomendado pela Confederação Nacional do Transporte, mostram que a população brasileira percebeu aumentos de preços e vê "impacto alto" da inflação na renda das famílias. O movimento acabou se refletindo em queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff. Pelo Datafolha, o recuo foi de 65%, em março, para 57%, em junho. Já o MDA aponta redução de 56,6%, em julho de 2012, para 54,2% agora.
Em pesquisa realizada nos dias 6 e 7 de junho, o Instituto Datafolha apontou que 80% dos entrevistados sentiram aumento de preço dos alimentos. A percepção de preços mais elevados também ocorreu para produtos de limpeza (64%) e itens de higiene pessoal (65%).
Já na pesquisa do MDA, divulgada ontem, 36,7% afirmam que o impacto da inflação na renda familiar é alta. Outros 36,6% avaliam esse item como moderado, e 18,6% percebem a inflação com impacto baixo na renda.
- Os dados da pesquisa convergem para uma percepção de perda do poder de compra, preocupação com a inflação e maior insegurança com a estabilidade do emprego. Isso fez com que uma parcela significativa da população deixasse de apoiar a Dilma neste momento. A questão agora é saber se o recuo de popularidade é momentâneo ou o início de um processo de queda - afirma o diretor geral do Datafolha, Mauro Paulino.
Os dados da pesquisa do Datafolha mostram ainda que mais da metade da população (51%) acredita que a inflação vai aumentar, ante 45% em março, e 36% têm expectativa de elevação do desemprego, índice que era de 31% em março. O poder de compra também é motivo de preocupação: 27% veem piora, contra taxa de 18% em março.
A expectativa da situação econômica do entrevistado também registrou menor otimismo. A perspectiva de melhora é compartilhada por 56% dos entrevistados, ante 68% em março. A taxa dos que acreditam que a situação ficará como está aumentou de 24% em março para 32% em junho.
- A crise chegou ao bolso do brasileiro - afirma Paulino.
Ele explica que há uma correlação direta entre a economia e a popularidade do governo federal, tanto no Brasil como em outros países. Quando a economia vai bem, a popularidade costuma estar em alta. Se o cenário econômico vai mal, a popularidade sofre.
Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, o aumento dos gastos com alimentos é a principal razão para essa percepção maior do impacto da inflação entre a população. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial no país, acumula alta de 6,5% nos doze meses encerrados em maio, segundo o IBGE. A inflação de alimentos, no entanto, é mais do que o dobro no período, de 13,53%.
O mercado financeiro, por sua vez, pouco alterou as projeções para a inflação desde o início do ano. Pelo último Boletim Focus, a inflação pelo IPCA deve ser de 5,80% em 2013 e 5,80% em 2014. No primeiro relatório do ano, as projeções eram de 5,73% e 5,49%, respectivamente.
- O mercado já via claramente uma inflação forte, mas a população continuava a consumir. Só quando viu que estava gastando mais com alimentos e tinha perda de poder aquisitivo é que começou a se preocupar com a inflação. E claramente se juntou a essa preocupação a disparada do dólar - aponta Velho.
Analistas veem com preocupação o cenário para inflação.
- Temos uma inflação consistentemente perto do teto da meta e isso não é apenas em alimentos. Há uma difusão - avalia Jankiel Santos, economista chefe do BES Investimento.
Presidente do Vox Populi vê outros desgastes
Para o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, questões econômicas como um todo contribuíram para a queda de popularidade de Dilma, e não apenas a inflação, além de aspectos políticos:
- No primeiro semestre, o governo foi questionado por uma série de razões, não só pela inflação. Teve baixo crescimento, problemas de infraestrutura, dificuldade de escoamento de safra, boatos sobre Bolsa Família, crises com partidos. Foram muitos fatores de desgaste.
A economia, segundo Coimbra, é um dos aspectos a serem avaliados numa sucessão política, e não o único. A famosa frase "É a economia, estúpido", do estrategista da campanha de Bill Clinton, James Carville, na eleição de 1992, não é uma verdade absoluta.
- A economia mandou naquela eleição, mas na eleição seguinte Clinton não conseguiu eleger Al Gore como seu sucessor. Se fosse isso, a política seria muito mais simples - afirma.
Fonte: O Globo
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