Há tempos, o quadro partidário não se mostra tão confuso. A razão disso tudo é a incerteza eleitoral para o ano que vem. E, quando o futuro em termos eleitorais é incerto, todos se movimentam no sentido de ficar livres para o que der e vier e em busca do melhor caminho para sobreviver em qualquer situação. A exceção óbvia é quem está no poder. Esse grupo trata de agir para tentar se segurar onde está. Essa é a lógica que impera hoje em meio ao troca-troca partidário nos bastidores, com acusações e mágoas aflorando por toda parte.
Vamos começar por aqueles que estão na situação. O PT hoje não tem a reeleição de Dilma Rousseff apontada como líquida e certa. Na mesma situação, está o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Nesse quadro, crescem os olhos de aliados e de adversários interessados em lhes ocupar o lugar.
Dilma Rousseff e Agnelo têm hoje uma situação parecida. Ela perdeu o PSB assim como Agnelo. Embora o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ainda não tenha dito com todas as letras que disputará a Presidência da República, ele tenta construir seu partido e uma base capaz de sustentar a candidatura. O mesmo faz o senador Rodrigo Rollemberg no plano do DF.
Ambos começaram perdendo apoios. No DF, uma parte do PSB ficou com o governador Agnelo. Da mesma forma, o governador do Ceará, Cid Gomes, e o irmão e ex-deputado Ciro Gomes deixam o partido para permanecer na base da presidente Dilma Rousseff. Em ambos os casos, embora em tempos diferentes, a saída do PSB tratou de reaproximar PT e PMDB.
No plano nacional, a presidente Dilma aproveita a saída do PSB para entregar pelo menos um cargo ao PMDB. Embora ela não tenha dito ainda que os peemedebistas receberão o Ministério da Integração Nacional — deve fazê-lo hoje, quando voltar de Nova York —, o partido já fechou o nome do senador Vital do Rêgo, da Paraíba, para ocupar o lugar vago com a saída de Fernando Bezerra Coelho. É o nome que mais agrada à bancada e ao presidente do Senado, Renan Calheiros. Para não brigar com seus correligionários, recolheu os flaps da indicação de Luciano Barbosa, de Arapiraca, que já havia sido ministro indicado por Renan.
Em relação ao governo do Distrito Federal, emblemática a reunião de ontem entre PT e PMDB no sentido de manter a aliança política entre o governador Agnelo Queiroz e o vice, Tadeu Filippelli. Ocorre que talvez o PT local tenha demorado muito para fazer esse cortejo ao PMDB. Os socialistas saíram do governo de Agnelo há mais de dois meses e, nesse período, não houve um gesto do governo local no sentido de prestigiar o PMDB convidando seus pares a ocupar os cargos vagos.
No geral, o que se percebe é que, nos dois casos, os petistas não têm outra coisa a fazer, senão estender o tapete vermelho ao aliado. Da parte do PSB, o que se vê é Eduardo Campos tão perto da candidatura quanto o senador Rodrigo no DF. A diferença é que, no plano nacional, os movimentos para sufocar a candidatura de Campos, mas deixar a porta aberta para um segundo turno, parecem mais incisivos do que no DF. Não se viu, desde a saída do PSB do governo Agnelo, nenhum gesto no sentido de manter Rodrigo Rollemberg na órbita petista. Talvez esse gesto, se não vier logo, faça falta lá na frente, quando chegar a hora da campanha. Afinal, num universo de várias candidaturas que se avista tanto para o governo do Distrito Federal quanto para a Presidência da República, a lógica da sobrevivência requer a manutenção de aliados ou, pelo menos, de adversários amistosos. Resta saber se o PT seguirá esse conselho, que já foi levado tanto ao Planalto quanto ao Buriti por atentos atores da política. Como foi dito aqui há alguns dias, o momento é de cortejo. E parece que está apenas começando.
Enquanto isso, no Solidariedade...
O gesto do pai do Solidariedade, o deputado Paulo Pereira da Silva (o Paulinho da Força Sindical), de visitar o senador Aécio Neves ontem, em Brasília, vai além da simples cortesia. O objetivo ali é se posicionar para tirar filiados do partido de Gilberto Kassab, o PSD. O PSD foi fundado como um partido independente e hoje Kassab aproximou a legenda do governo Dilma. Paulinho, por sua vez, chega proclamando independência, mas simpático a Aécio e fechado no apoio à reeleição de Geraldo Alckmin em São Paulo. Abre assim, o caminho de volta à órbita tucana de muitos que entraram no PSD e são avessos à aproximação com o PT. Mais um que atua na lógica da sobrevivência na selva política desses loucos dias de reta final para filiação partidária de candidatos no ano que vem. Ainda bem que faltam apenas 10 dias.
Fonte: Correio Braziliense
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