A um ano das eleições, faltando pouco mais de uma semana para o encerramento do prazo de filiação partidária e criação de partidos, o panorama que se descortina do planalto central é o de salve-se quem puder. Notadamente pela ação da entourage da candidatura líder.
Dilma Rousseff marca todos os seus passos no ritmo definido pelo grupo que coordena a campanha da reeleição. E é um grupo homogêneo, no sentido da preferência pelas emoções fortes em manobras radicais.
Da prioridade atribuída às concessões da infraestrutura às querelas político-ideológicas com os EUA, tudo o que se faz e se diz está voltado para o público interno e visa produzir ações e discurso para a propaganda eleitoral na TV.
Lula voltou a ser carta dentro mas se forçar perde
A presidente não parece sensibilizar-se com resultados adversos. Continuam a acontecer no governo, como recentemente a Polícia apontou no Ministério do Trabalho e no Palácio do Planalto, irregularidades, desmandos e desvios iguais aos que transformaram o primeiro ano de mandato no marketing da faxina ética. Isso, agora, com a proximidade de uso dos minutos partidários de propaganda, já não sensibiliza. A presidente deixa rolar.
O negócio é manter os partidos, com práticas condenáveis ou não, sob o guarda-chuva da aliança pela reeleição. Viu serem demitidos funcionários que trabalhavam em salas contíguas à sua. E nem por isso se sentiu obrigada, como antes, a providências para colocar o governo na linha.
Os principais projetos de licitação não deram a resposta esperada, e Dilma não mostrou saber que estavam fadados ao fracasso. Como fato consumado viu que a BR 262 não despertara o interesse que imaginava, e o campo de Libra, nata do pré-sal, recebera apenas 11 candidaturas ao leilão. "Há mais do que 11 empresas nesse ramo"? A pergunta é de um integrante do governo que, com isso, quis desdenhar da baixa procura por parte dos grandes do ramo.
O ministro da Saúde, em cujo setor se desenrolam temas de destaque para os programas eleitorais da presidente e dele próprio, com grande apelo popular, transformou-se em ministro de muitos problemas e uma solução só, um monotema de campanha permanente e diuturna. Por ordem de cima ou não, ele também arrasta consigo outros colegas engajados no seu projeto de eleger-se governador de São Paulo, que começa a executar com grande antecedência, como determina fórmula consagrada pelo ex-presidente Lula, maestro do projeto eleitoral do PT.
Ora é a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ora é o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e até o da Justiça, em algum momento acompanham Padilha em seu périplo de pré-campanha.
O governo passou a fidelizar mais sua base de apoio no Congresso, conseguindo vitórias nas votações dos vetos, algumas por um voto, como a mais importante delas - a do fim da multa do FGTS - uma proeza do momento eleitoral que reelegerá a todos. Não se deu ao trabalho de argumentar, aliança, nesta época, é para exatamente a adesão automática.
E a candidatura líder quer, mais para a campanha imediata do que pela governabilidade futura, aumentar o tempo de propaganda: o PTB negocia entrar na aliança para substituir o minuto e meio de propaganda do PSB, podendo para isso até ganhar o Ministério da Integração Nacional.
O governo do Brasil fica à matroca, mas o PT está tão no domínio do fato que nada teme. Até os adversários mantem sob controle. O governador Eduardo Campos (PE) entregou os cargos federais do PSB, e os estaduais também, cedendo a uma pressão por definição de sua candidatura que considerou indevida do PT. Contudo, a cúpula do partido da candidata líder decidiu manter o PT agarrado aos cargos nos governos do PSB. Essa ocupação da máquina socialista traduz-se, na linguagem do PT, por "não puní-los", "preservar as relações tendo em vista o segundo turno", "manter os canais de diálogo para uma retomada da aliança". Crível não é.
Campos tem demonstrado ser o mais equilibrado dos candidatos a esta altura da campanha, e seu partido, o PSB, majoritariamente o mais coerente. Embora sofra com a pressão espalhafatosa das duas dissidências internas, Cid Gomes e Alexandre Cardoso. Tem, na sua cola, em Pernambuco, um quadro adverso, com o PT oferecendo legenda a Fernando Bezerra, o ministro defenestrado do posto; acenando com apoio ao vice para ser governador e candidato à reeleição quando Eduardo deixar o cargo; com o PTB, integrado à aliança federal e alimentado pelo governo, empurrando a candidatura Armando Monteiro. Vê-se que não é difícil Eduardo Campos perder a máquina estadual e federal ao mesmo tempo. Mas ainda está altivo.
Levado ao tudo ou nada federal, encostado na parede, sem os cargos que o PT não lhe devolve nos Estados para reacomodar-se, o PSB ainda vê o algoz escudar-se em Lula para garantir adesão em eventual segundo turno. E não é só se Lula for o candidato, quer apoio à candidatura Dilma.
Se Lula for, hipótese ainda não descartada, que voltou com tudo, Eduardo não será. Lula ofereceu-lhe apoio para 2018. Mas Lula depende quase que de uma doação de sua criatura. Sabe que, se forçar sua candidatura como quer o partido e a candidata à reeleição, por exemplo, se emocionar em público, perderá a disputa. De patrono estará transformado em algoz.
Eduardo é quase 100% candidato, para contê-lo só Lula na cédula. O governo Dilma ainda espera que a candidatura Marina possa desestimulá-lo. Embora veja a ex-senadora como candidata fortíssima e seja ela um obstáculo para que adquira fôlego no Sul e Sudeste, o PSB acredita ter ido longe demais para desistir. E a candidatura líder vê em Marina uma contradição: alicerçada na condenação da política tradicional, utiliza-se do que há de mais tradicional na política para atingir sua meta - a pressão sobre os que devem julgá-la para que transgridam a lei. Marina tem todo o direito a ter seu partido, nesta e nas próximas eleições, mas não é inimputável.
Fonte: Valor Econômico
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