• Fundo de pensão é suspeito de contribuir com esquema de Youssef
Renato Onofre e Cleide Carvalho – O Globo
SÃO PAULO - A Polícia Federal (PF) abriu inquérito para apurar irregularidades no fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, o Petros. Os investigadores querem saber se recursos do fundo, o segundo maior país, foram usados para alimentar o esquema de propina montado pelo doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato.
A PF suspeita que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, tenha intermediado a aproximação do doleiro com o Petros. Ontem, os advogados da estatal pediram autorização ao juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara de Curitiba, para acompanhar as investigações. A empresa também contratou uma auditoria internacional para rastrear o quanto foi desviado do fundo.
De acordo com a PF, Vaccari é suspeito de intermediar negócios entre o Petros e a empresa CSA Project Finance. O advogado Carlos Alberto Pereira Costa, que aparecia como sócio da CSA, afirmou que o tesoureiro do PT frequentou regularmente o escritório da CSA em São Paulo entre 2005 e 2006. E também esteve no escritório do de Youssef para tratar de negócios envolvendo fundos de pensão de estatais. A CSA foi usada para lavar R$ 1,16 milhão do mensalão.
Apesar de estar em nome de Carlos Alberto, as investigações mostraram que a CSA teve como sócios ocultos o ex-deputado José Janene (PP-PR), já falecido, e o empresário Cláudio Mente, apontado pelo advogado como o principal contato de Vaccari. Com a morte de Janene, em 2010, Youssef herdou a administração dos negócios e da distribuição de propina.
O Petros repassou R$ 13 milhões para a empresa Indústria Metal do Vale (IMV), em Barra Mansa (RJ), que foi usada por Janene para lavagem de dinheiro. Nesse negócio, segundo Pereira Costa, foi pago R$ 500 mil a dois representantes do Petros.
E-mails de Enivaldo Quadrado, um dos auxiliares de Youssef, interceptados pela PF sugerem que Vaccari seria a pessoa que fez a intermediação entre Youssef e representantes do Petros em 2012. O grupo chefiado pelo doleiro queria captar recursos do fundo para o Trendbank, um fundo de investimento que faliu em 2013 e deixou um rombo para os investidores de R$ 400 milhões.
Em fevereiro de 2012, Quadrado enviou um e-mail a um executivo do Trendbank, Pedro Torres, avisando que acertara o encontro com representantes da Petros por meio do petista: "Falei hoje com João Vaccari sobre Petros, vamos ter reunião com os caras dia 28/02". O relatório da PF chama atenção para a conversa. O fundo de pensão dos funcionários da Petrobras aplicou R$ 21 milhões no Trendbank.
A PF descobriu também que o Trendbank investiu parte do dinheiro que captou em papéis de empresas fantasmas ligadas a Youssef. Essas empresas eram usadas para lavagem de dinheiro.
Vaccari esteve na sede da principal empresa do doleiro, a GFD, um mês antes de a PF deflagrar a Operação Lava-Jato. Ele confirmou que conhecia Youssef, mas não revelou o motivo da visita.
Indagado sobre os encontros que vieram à tona com o depoimento de Costa, Vaccari Neto afirmou, em outubro, que era amigo pessoal de Mente e, por isso, esteve na sede da CSA. Negou, porém, ter feito negócios com ele.
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