• Reforma não 'resolve os problemas' e ajuste será 'pontual', afirma presidente
• Um dia após demissão de Cid Gomes, petista diz que não levará em consideração partidos ao escolher substituto
João Carlos Magalhães, Gabriela Guerreiro, Mariana Haubert e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Ao afirmar que uma reforma ministerial não "resolve os problemas" e que não pretende "alterar nada e ninguém", a presidente Dilma Rousseff desagradou setores do PMDB e do próprio governo que defendem mudanças para tentar superar a crise política e acalmar os mercados.
Dilma falou sobre o assunto nesta quinta (19) em evento no Palácio do Planalto, um dia após ser obrigada a aceitar a demissão de seu ministro da Educação, Cid Gomes, para evitar que o PMDB deixasse de apoiá-la na Câmara.
Cid havia atacado o principal aliado de Dilma no Congresso durante sessão na Câmara, acusando a sigla de chantagear a presidente para ter mais espaço no governo.
Dilma afirmou também que não levará em consideração os partidos que a apoiam ao escolher um substituto para Cid Gomes na Educação, mudança que classificou como uma "alteração pontual".
"Vocês [jornalistas] estão criando uma reforma que não existe", afirmou a presidente. "Não tenho perspectiva de alterar nada nem ninguém, mas as circunstâncias às vezes obrigam você a alterar, como foi o caso da Educação. Não tem reforma ministerial."
A fala de Dilma gerou preocupação entre assessores e peemedebistas, porque eles avaliam que o governo precisa fazer "rapidamente" uma reforma ministerial que acalme a base aliada, principalmente o PMDB, para garantir a aprovação do ajuste fiscal.
As declarações de Dilma também foram mal recebidas no mercado. A cotação do dólar, que vinha caindo no início do dia, passou a subir em seguida e fechou a R$ 3,305, maior valor em quase 12 anos.
Assessores presidenciais tentaram relativizar as declarações. Segundo eles, Dilma fará ajustes em sua equipe, como trazer o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Mas ela não quer admitir que essas mudanças sejam uma reforma ministerial antes de completar três meses de seu segundo mandato.
Ela analisa ainda tirar o ministro Pepe Vargas da articulação política do governo e entregar a pasta ao PMDB, que também pode herdar o Ministério da Integração Nacional, hoje controlado pelo PP.
Para evitar ser acusado de fisiológico, o PMDB pensa em formalizar à presidente uma proposta de reforma administrativa, cortando quase pela metade o número de ministérios, hoje 39. Segundo um líder peemedebista, o governo daria seu exemplo e o Congresso teria mais argumentos para aprovar o ajuste fiscal.
Na entrevista desta quinta-feira, Dilma disse que o Ministério da Educação não será "dado para ninguém" e avisou que vai "escolher uma pessoa boa para educação, não a pessoa desse, daquele ou de outro partido". Segundo ela, o nome será escolhido "o mais rápido possível".
Para Dilma, uma reforma não resolverá a crise em que seu governo mergulhou. "Reforma ministerial [não] é uma panaceia, ou seja, não resolve os problemas." O que resolve os problemas, disse, são medidas práticas e diálogo. "Precisa dessa capacidade de escutar os outros lados".
O ministro Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, afirmou que a saída de Cid Gomes foi motivada por um "incidente político grave" e pela falta de "condições políticas" após o embate na Câmara: "Acho que ninguém desejava que isso pudesse se transformar no episódio que tivemos, mas aconteceu".
O ministro negou que a saída de Cid tenha resultado de pressão do PMDB. "Ele achava que não havia mais condições políticas porque a presença dele prejudicaria a relação do Congresso Nacional com o MEC. Foi uma iniciativa dele e foi imediatamente aceita pela presidente."
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