A demissão de Cid Gomes do Ministério da Educação exibe a uma nação perplexa o teatro do absurdo em que se transformou o governo Dilma Rousseff, o da "Pátria Educadora", na qual se aprende que numa crise política fora de controle a situação nunca é tão ruim que não possa ser piorada.
É tão absurda a cena protagonizada pelo agora ex-ministro de Dilma na tarde de quarta-feira no plenário da Câmara dos Deputados, que a respeito dela qualquer especulação é válida. Desde que se tratou de uma encenação previamente combinada com o Palácio do Planalto para marcar posição na queda de braço de Dilma com os parlamentares, até de que foi simplesmente a melhor maneira encontrada pelo encrenqueiro ex-governador do Ceará para, sob a aura de destemor no combate à corrupção, pular fora do barco que soçobra.
De qualquer forma, o bate-boca no plenário da Câmara prestou ao País o desserviço de estimular o descrédito nas instituições democráticas. Mas há, como sempre, quem tenha contabilizado lucro. Aproveita o PMDB, porque, afinal, Cid Gomes ministro era uma peça na armação palaciana para enfraquecer politicamente o maior partido aliado do governo. E lucra, em particular, Eduardo Cunha, que capitaliza mais uma derrota do governo e fortalece sua posição de herói do baixo clero.
Chama também a atenção neste mais recente escândalo da República - o que ajuda a torná-lo ainda mais surreal - o fato de, a bem da verdade, todos os envolvidos terem razão. Cid Gomes cometeu a deliberada provocação de falar de corda em casa de enforcado, mas não há como negar - até porque a Operação Lava Jato não deixa - que entre os nobres deputados há um número expressivo de suspeitos de se enquadrarem na categoria de achacadores. Não há espírito de corpo que possa contestar essa evidência.
Por outro lado, não se pode confundir a instituição parlamentar com o eventual desregramento de alguns de seus integrantes, por maior que seja o número deles. Ou seja, o ex-ministro cometeu o pecado de não dar nomes aos achacadores. Por fim, Cid Gomes subiu à tribuna da Câmara na condição de ministro de Estado, representante do Poder Executivo, e, por uma questão de decoro, tinha a obrigação de tratar com respeito a instituição que naquele momento o convocava a prestar esclarecimentos sobre declarações desabonadoras que fizera sobre deputados. É legítima, portanto, a indignação dos parlamentares com o comportamento de Cid Gomes, mesmo por parte daqueles que possam ser moralmente vulneráveis.
O enredo desse teatro do absurdo é tão antigo quanto a história da humanidade - a luta pelo poder -, a encenação é farsesca no pior sentido, até porque não tem direção, e o elenco de canastrões é péssimo. Não é à toa que a plateia dá clara demonstração de não gostar do que está assistindo.
Dilma Rousseff - que não tem vocação para a cena pública nem consegue aprender o métier - tenta prestar atenção nas deixas e dizer sua fala. Mas só consegue provar que não é do ramo: quando alguém mete um caco no texto, dá-lhe um branco e ela não consegue emendar um improviso aceitável. O resultado tem sido desastroso.
Mas, quando o gênero em cartaz é o absurdo, o que é atentar contra a lógica e o bom senso? Um bom exemplo é o caso do senador Romero Jucá, que tem participação especial nesta e em qualquer outra peça - já foi devotado tucano no governo FHC e hoje presta sua fidelidade não ao governo do PT, pois ele é governista, mas não é tolo, mas ao espírito corporativo da chamada classe política.
No momento em que se discute a reforma política, o que pode implicar a proibição de doações de pessoas jurídicas para a atividade partidária; em que o escândalo da Petrobrás inibe os grandes doadores privados; e em que o governo tenta cortar gastos como condição essencial ao ajuste fiscal, nesse momento Romero Jucá, relator da proposta orçamentária, se apresenta como o providencial salvador dos políticos. Triplicou o Fundo Partidário e aumentou a dotação para as emendas parlamentares. A Pátria, entristecida, lamenta.
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