• Aumento do desemprego e redução do poder aquisitivo dos salários já eram uma tendência devido ao esgotamento do modelo do ‘novo marco macroeconômico’
As propostas dos “desenvolvimentistas” podem ser apresentadas de maneira mais sofisticada ou não, mas se baseiam na suposição central de que o dirigismo do Estado — sempre conduzido por clarividentes líderes políticos — é capaz de perpetuar ciclos de crescimento do emprego e dos salários. E com inflação baixa. A indução de investimentos por agentes oficiais (BNDES) e o turbinamento do consumo privado por meio de gastos públicos perenes e ascendentes geram o consumo a ser atendido pela capacidade de produção ampliada por tais investimentos, e assim cria-se um circulo virtuoso de desenvolvimento constante. Algo como o “moto-contínuo”, a máquina que geraria a sua própria energia.
Trata-se de uma impossibilidade, mas, no mundo das ideologias, economistas “desenvolvimentistas” continuam a sonhar com ela. Seria algo inofensivo se, volta e meia, não tentassem aplicar a teoria ilusória do “moto-contínuo” em países reais. É o que Lula e Dilma I fizeram, a partir do final do segundo mandato do ex-presidente, quando a crise mundial, agravada em final de 2008, foi usada como pretexto para a criação do “novo marco macroeconômico” — gastos em alta, injeção de bilhões de dívida pública no BNDES etc. Fazia sentido por um período, mas não eternizar a política. É o que foi feito, apesar dos alertas.
O desastre que o “novo marco” produziu é conhecido. Como previsto, a inflação disparou, também porque preços públicos congelados (combustíveis, tarifas de energia), com intenções eleitoreiras, tiveram de ser corrigidos logo no início do segundo mandato da presidente.
Salários e emprego já sinalizaram de maneira forte a ressaca da embriaguez do modelo “desenvolvimentista”. O acompanhamento de acordos salariais fechados no primeiro trimestre mostra que aumenta a proporção de reajustes acertados entre patrões e empregados em níveis inferiores ao INPC (Índice Nacional de Preços). De janeiro a março, 11,9% dos acordos foram fechados com índices aquém da inflação, três vezes mais do que há um ano.
Não era mesmo possível manter os salários em alta para sempre. Bem como o emprego — uma coisa tem relação com a outra. Na média, nas seis maiores regiões metropolitanas, o desemprego chegou a 6,4% em abril, contra 4,9% em mesmo mês de 2014, e deve subir mais, infelizmente.
Ressalte-se que esse início de ajuste independeu da nova política econômica adotada por Dilma, imposta pela realidade. Ele já vinha ocorrendo devido às próprias forças de mercado: apesar de todos os estímulos, o PIB fechou 2014 praticamente estável, cresceu 0,1%, sem fôlego.
Um ajuste selvagem já estava em curso, causado pelos equívocos do “novo marco”. Já o aperto proposto pelo segundo governo Dilma, além de ser uma autocrítica, visa a recuperar o controle da economia e preparar as bases para a retomada. Mas piorará antes de melhorar. A grande diferença é que passa a haver a perspectiva de melhoria.
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