• Documentos que serão levados ao congresso do partido apontam encruzilhada e reconhecem erros da direção
Sérgio Roxo – O Globo
Com dúvidas sobre seu futuro, arrependido de atitudes do passado e certo de que está sendo traído no presente. De acordo com as teses apresentadas pelas correntes internas do PT para seu 5 º Congresso, previsto para ocorrer no mês que vem, o partido vive uma crise existencial.
Os documentos são unânimes no diagnóstico de que a legenda se encontra numa encruzilhada e que passa pela maior crise de sua história. A chapa majoritária Partido que Muda o Brasil ( PMB), do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, chega a alertar: "os partidos não são eternos".
No encontro, 800 delegados, divididos de acordo com a votação de cada chapa na eleição interna de 2013, vão definir um documento com resoluções, tiradas a partir das teses, que vão nortear a vida petista nos próximos anos. Podem, por exemplo, mudar o processo de escolha dos dirigentes, como defendem todas as correntes menos a PMB. O Congresso, marcado para ocorrer entre os dias 11 e 13 de junho em Salvador, é o quinto do partido em 35 anos.
Os sete documentos registrados para o congresso mostram a perplexidade dos petistas diante do momento. Mantêm queixas aos inimigos de sempre (as forças conservadoras e a mídia), mas faz mea-culpa diante dos caminhos escolhidos nos últimos anos. A PMB, que terá 53,6% dos delegados no encontro, fala em "necessidade de uma contraofensiva política e ideológica para superar a crise de identidade que estamos atravessando". Ressalta que, para isso, o congresso, que se realiza em condições "políticas excepcionais", não pode ser "um ritual burocrático".
A Mensagem ao Partido, segundo maior grupo, com 20,5% dos delegados, avalia que "a construção do PT está ameaçada pela política e cultura sem utopia e sem ética de um capitalismo em crise". A chapa Partido para Todos e na Luta, terceira força interna e que terá 14,3% dos delegados, chega a diagnosticar que a "situação é dramática", com base em pesquisa Datafolha, divulgada em março que mostra que o partido atingiu o mais baixo índice de simpatizantes desde 1989: só 9%.
As críticas ao ajuste fiscal da presidente Dilma Rousseff também são comuns em todas as correntes. A PMB é mais cuidadosa ao analisar as medidas, mas não deixa de destacar que "o problema é que o peso tenha recaído mais sobre os trabalhadores do que outros setores das classes dominantes". Diz que o papel do partido é "apoiar o governo e, ao mesmo tempo, empurrá-lo para que cumpra o programa para o qual foi eleito".
Nas demais chapas, o tom das críticas às medidas é mais duro. "O governo Dilma se iniciou com uma clara inflexão conservadora, contraditória com o programa eleito", diz a Mensagem. A Partido para Todos cobra o cumprimento do programa eleitoral.
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