- O Globo
Os números e fatos ruins têm feito fila. É um por dia, e, às vezes, mais de um. Na semana passada, houve aumento de gastos sendo decididos pelo Congresso, desemprego de jovens de 16,2%, quase 100 mil demitidos do mercado formal em abril, e o Banco Central informou que a economia encolheu durante o primeiro trimestre. A ressaca de uma campanha eleitoral equivocada ainda não passou.
Foi tão falsa a campanha da presidente que diariamente o país fica de frente com a contradição entre o projetado e o acontecido. Quando o governo foi explicar, na sexta-feira, os cortes no Orçamento, ficou claro que os ex-ministros Guido Mantega e Miriam Belchior já sabiam — só não diziam — que haveria mudança no seguro-desemprego e no abono salarial. Então calcularam um gasto R$ 10 bilhões menor com esses dois benefícios. Durante a campanha, a presidente repetiu inúmeras vezes que não era necessário ajuste fiscal, porque isso seria o mesmo que cortar direitos de trabalhadores. Agora, a propaganda do governo repete que o ajuste está sendo feito para garantir as conquistas anteriores. Não é verdade, ele está sendo feito porque é preciso corrigir os inúmeros erros cometidos no governo anterior pela presidente Dilma.
A equipe econômica faz o que pode para tentar salvar algo deste grande naufrágio a que nos levou as antigas escolhas do governo, mas há um clima de crise no país, que enfraquece qualquer indício de recuperação. Ela pode vir, mas será lenta. Antes, será preciso conquistar a credibilidade no projeto do atual governo para a economia.
Nada faz muito sentido no governo. Ele fala agora em transparência, e a equipe econômica tem praticado isso, mas o projeto de quebrar o sigilo do BNDES foi vetado pela presidente Dilma com o argumento de que a medida “feriria sigilos bancários e empresariais”das empresas tomadoras de recursos. É um espanto esse argumento. Obviamente, um banco cuja única fonte de recursos é o Tesouro e fundos coletivos, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador, não pode esconder as condições, garantias, custos e prazos dos empréstimos que concede argumentando que é preciso proteger o tomador do crédito. O único argumento que faria sentido seria respeitar a legislação do mercado de capitais que manda resguardar algumas informações temporariamente. Publicado o balanço, tudo pode ser divulgado. E o que dizer de empréstimos para obras no exterior? Não há explicação plausível até o momento para se esconder as informações do que é feito do dinheiro do contribuinte até dos órgãos fiscalizadores.
A relação com o Congresso é um tormento diário e uma sucessão de surpresas. A cada dia pode surgir uma novidade que provoque aumento de gastos. Há duas semanas ocorreu a queda do fator previdenciário, com a inclusão de uma nova fórmula de aposentadoria sem qualquer cálculo, antes, que informasse quanto isso custará a curto prazo e no futuro. Na semana passada, uma comissão aprovou aumento de salários para servidores do Judiciário, que o governo disse que custará R$ 25 bilhões, e avançou também um projeto para a Câmara construir um prédio que pode ser até comercial.
O governo decidiu fazer um ajuste que corta investimentos e aumenta impostos. Duas más soluções para o problema. O argumento da equipe econômica é que é muito difícil cortar em outros gastos que não o investimento. Durante a semana, governadores foram a Brasília para uma reunião com os presidentes da Câmara e do Senado sobre pacto federativo. Normalmente, esse seria o papel da presidente da República. Na omissão, agiram os presidentes das duas Casas que andam em conflito com o Executivo. Os governadores se queixaram de que só são propostos aumentos de impostos cuja arrecadação é toda do governo federal e que isso é o antipacto federativo.
Na semana passada, senadores da base governista, até petistas, se rebelaram contra a política econômica. Argumentaram que não foi isso que foi dito na campanha e pediram a demissão do ministro da Fazenda. O ex-presidente Lula foi a Brasília para se reunir com a presidente e passar de novo a impressão de que a tutela. A sensação ainda é de um governo sem rumo, no final do quinto mês do segundo mandato.
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