A nova fase da operação, o “pixuleco”, desencadeada na manhã de segunda-feira, esvaziou de pronto, frustrando significativamente, o potencial de dividendos político-institucionais e junto à opinião pública que a presidente Dilma esperava obter por meio da afirmação – na abertura dos trabalhos do Congresso – de uma “agenda positiva” de governabilidade e de ações midiáticas. Agenda preparada conjuntamente com o padrinho Lula. Cujos ingredientes incluíam os que seguem. Exploração do desgaste do presidente da Câmara, o peemedebista dissidente Eduardo Cunha. Capitalização do encontro com os governadores, como indicativo de melhora da governabilidade. Contra-ataque em torno dos graves problemas da economia (como se não fosse a principal responsável por eles), através do uso da ameaça de perda do grau de investimento do país, combinado com a denúncia de uma “pauta bomba” do Legislativo, objetivando uma retomada do comando do governo no tratamento desses problemas.
Na contramão de mais corte dos investimentos com o abandono da meta de superávit primário, promessa de generosa liberação de recursos para emendas parlamentares e distribuição de muitos cargos na máquina federal, tendo em vista o bloqueio a propostas de impeachment a partir de votação no Senado de provável reprovação das “pedaladas fiscais” pelo TCU. Reconhecimento, enfim, da necessidade de redução do número de ministérios (cuja cobrança por Aécio Neves foi associada por Dilma, na campanha reeleitoral, a desmonte dos programas sociais e da “soberania” do Estado). E agenda cujo objetivo imediato maior era o enfraquecimento das manifestações de protesto do próximo dia 16.
Tais ingredientes e objetivo frustraram-se em grande medida com a prisão e, mais do que isso, com a identificação do papel do ex-ministro José Dirceu na criação e no comando (estatal) do petrolão, quando dirigia a Casa Civil no primeiro mandato do lulopetismo. Assim, desdobrando e ampliando o mensalão. Este operado, basicamente, para a montagem e o custeio mensal da base parlamentar do governo Lula. E o segundo, também para o financiamento de campanhas eleitorais do PT, inclusive da atual presidente. Os vínculos de Eduardo Cunha com o petrolão (investigados pela Lava-Jato e que, se confirmados, devem ser punidos) são semelhantes aos de muitos deputados e senadores beneficiários do esquema, não como os do protagonismo dos dirigentes do PT (que o Palácio do Planalto transferia para ele numa manobra diversionista).
A parte da “agenda positiva” de Dilma ligada ao ajuste fiscal segue obstruída, refletindo o péssimo relacionamento da presidente com a Câmara e o Senado, o isolamento das bancadas do PT, os perversos efeitos econômicos e sociais da crise econômica (fatores que o vice Michel Temer não consegue superar) e os altos índices de rejeição popular a ela, ao seu governo e ao petismo.
O impacto da prisão e das revelações sobre José Dirceu tende a desdobrar-se em mais delações premiadas à frente, a partir da do ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras, Renato Duque, que está sendo negociada com o Ministério Público. E as investigações desses órgãos, em Brasília e em Curitiba, vão chegando ao núcleo do Palácio do Planalto e ao ex-presidente Lula. Tudo isso impulsionado a mobilização para as manifestações de rua do dia 16 (que poderão ser antecipadas por um grande panelaço contra o programa de rádio e TV do PT amanhã (hoje) à noite, que vai misturar Lula e Dilma, numa decisão da qual o partido já deve ter-se arrependido).
Respostas ao agravamento das crises econômica e política – A piora dos cenários dessas crises, no começo de agosto, independentemente da sequência da operação Lava-Jato e da escala da retomada das manifestações de protesto, vai passando a colocar o desafio, imperativo, nos próximos meses, de um amplo entendimento político-institucional pluripartidário em resposta a elas. Tendo como atores principais as lideranças da oposição (à frente o presidente do PSDB, Aécio Neves e FHC) e os três comandos do PMDB – o vice-presidente Michel Temer e os dirigentes da Câmara e do Senado. Com ou sem a continuidade do governo Dilma, neste caso com papel secundário dele. Entendimento que seja capaz de reverter os sufocantes mal-estar e pessimismo do conjunto da sociedade e a paralisante falta de perspectiva e de credibilidade por parte dos agentes econômicos. E, assim, podendo encaminhar um ajuste das contas públicas, consistente e institucionalmente viável, articulado com reformas estruturais.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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