• Operação, com valor de R$ 40 bi, visa a retirar dinheiro de circulação
Martha Beck, Gabriela Valente - O Globo
-BRASÍLIA- O Tesouro Nacional fez ontem uma emissão de R$ 40 bilhões em títulos públicos para o Banco Central (BC). A ideia foi dar à autoridade monetária mais fôlego para realizar operações compromissadas, que servem para reduzir o volume de dinheiro em circulação no mercado. A medida é mais uma etapa do processo de pagamento das pedaladas fiscais (atrasos nos repasses de recursos do Tesouro para bancos públicos e para o FGTS ocorridos nos últimos anos).
Como a União quitou todas as pedaladas em dezembro, os bancos passaram a ter mais dinheiro em caixa — liquidez —, o que tende a aumentar o volume de dinheiro no mercado e pressionar a inflação. No total, foram repassados R$ 72,4 bilhões a BNDES, Caixa, Banco do Brasil e FGTS, sendo que R$ 55,6 bilhões deste total se referem a passivos de anos anteriores. Assim, para evitar desequilíbrios, o BC precisa realizar as operações compromissadas, que são vendas de títulos para reduzir a liquidez da economia.
‘Tinha que ser feito’
Segundo nota divulgada ontem pelo Ministério da Fazenda, a emissão foi realizada para manter a carteira do BC “em dimensões adequadas para a condução da política monetária”. Em outro trecho, o texto explica que “a emissão tem o objetivo de suprir a carteira da autoridade monetária com títulos públicos em montante suficiente para viabilizar as operações compromissadas. (…) A emissão é necessária para manter em equilíbrio as condições diárias de liquidez bancária, de modo que a taxa Selic esteja em linha com a definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom)”.
De acordo com a Fazenda, já havia previsão de um aumento de liquidez do mercado em janeiro não apenas por causa das pedaladas. Um dos motivos para isso foi o vencimento, logo no dia 1º, de R$ 141,9 bilhões em títulos públicos que estavam em poder do mercado.
A área econômica destacou que a emissão de ontem ainda não vai recompor o colchão de liquidez (recursos decorrentes da venda de títulos que ficam depositados na conta única do Tesouro para rolar a dívida pública) que foi usado para pagar uma parte das pedaladas. Ao todo, foram gastos R$ 21,2 bilhões do colchão. Segundo a Fazenda, essas emissões serão feitas ao longo do primeiro trimestre deste ano.
Técnicos da área econômica afirmaram que a emissão vem num momento ruim, pois o Banco Central está elevando os juros, e o custo de captação de dinheiro no mercado está mais alto. No entanto, admitem que ela era necessária:
— O período não foi bom, mas tinha que ser feito — disse um integrante do governo que pediu para não ser identificado.
Ele afirmou ainda que o ritmo de realização das operações compromissadas vai depender da velocidade com que os bancos públicos vão colocar os recursos na economia.
Em outra frente, o governo trabalha para reduzir o impacto que o pagamento das pedaladas terá sobre a dívida bruta, principal indicador observado pelo mercado internacional e pelas agências de risco. O Tesouro negociou com o BNDES um acordo para o banco pagar antecipadamente R$ 28 bilhões da dívida que tem com a União, por causa dos sucessivos aportes de recursos feitos pelo Tesouro no banco nos últimos anos. O pagamento será usado para abater a dívida bruta.
Assim, embora as pedaladas tenham um impacto de R$ 55,6 bilhões sobre o endividamento, na prática, ele será menor, de R$ 27,6 bilhões, pois o governo vai abater R$ 28 bilhões do estoque. Segundo técnicos da área econômica, o BNDES já quitou mais da metade desse valor em dezembro. Em novembro, a dívida bruta federal somou R$ 3,84 trilhões, ou 65,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
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