• Novo presidente da Casa pode garantir espaço para o diálogo essencial à aprovação de reformas, enquanto derrota de deputado é outra garantia de tranquilidade
A vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa pela presidência da Câmara representa uma limpeza de terreno na Casa, para o governo interino de Michel Temer, com a vantagem adicional de ter aproximado ainda mais Eduardo Cunha do precipício da cassação. Maia, no segundo turno da eleição, na madrugada de ontem, obteve 285 votos contra apenas 170 de Rogério Rosso (PSD-DF), nome de Cunha e do centrão na disputa.
No decorrer do dia, o deputado fluminense suspenso também perderia na Comissão de Constituição e Justiça, por 48 votos a 12, na tentativa de fazer voltar o processo de sua cassação ao Conselho de Ética, mais uma manobra protelatória. Agora, em agosto, passado o recesso, o futuro de Cunha na vida pública deverá ser decidido em plenário, por voto aberto. Os prognósticos não são risonhos para ele. Se o vitorioso na disputa pela presidência da Casa fosse Rosso, Temer não seria derrotado, mas não saborearia uma vitória ampla, pois Cunha, mesmo cassado —é o que se espera —, poderia tentar alguma influência na Casa a partir da sua presidência. Agora, não.
Temer teve a correta preocupação de se manter distante da disputa, para não herdar contas decorrentes do pleito, como ocorreu com Dilma Rousseff, na derrota do candidato do PT, Arlindo Chinaglia, para o próprio Cunha, no mesmo embate, em fevereiro de 2015. A então presidente, numa operação suicida, resolveu derrotar Cunha e o PMDB, naquela votação para a Mesa da Câmara. O resultado é conhecido.
O governo Temer, porém, agiu a fim de esvaziar a candidatura do peemedebista Marcelo Castro (PI), ex-ministro de Dilma e contrário ao impeachment na votação de maio. A vitória de Castro, apoiado por Lula, PT e aliados, projetaria pesadas nuvens de pessimismo sobre o julgamento do impeachment no Senado. Complicaria o horizonte do país.
Maia assume com uma postura correta: esvaziar as tensões, sepultar o longo período em que o lulopetismo transformou o Congresso em território de caça a inimigos, a que foram convertidos todos os seus adversários políticos.
As primeiras declarações de Maia, confirmada a vitória, foram neste sentido. E o tom de restauração da “verdadeira política” foi mantido, durante o dia, em torno dos contatos realizados pelo novo presidente da Casa com Temer, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o tucano Aécio Neves (MG), este do bloco vitorioso com a ascensão do deputado fluminense. No mapa redesenhado da Câmara, a antiga oposição (PSDB, DEM, PPS, PSB) se soma ao PMDB, e em torno deste eixo orbitarão algumas legendas do chamado centrão. Os outrora donos do poder (PT, PCdoB), como se configurava, são a minoria na oposição. Começa-se a abrir um saudável espaço para o diálogo, essencial no enfrentamento da agenda estratégica das reformas que Temer precisa aprovar, com a finalidade de resgatar o país da crise e dar-lhe segurança e estabilidade numa fase longa e necessária de crescimento equilibrado e de reconstrução.
O mandato de Rodrigo Maia é curto, mas será nele que se decidirá boa parte do futuro do Brasil nos próximos anos. Até fevereiro, no mínimo o teto para os gastos e medidas correlatas, bem como a reforma da Previdência, precisarão ter sido aprovados ou muito bem encaminhados.
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