Gabriel Mascarenhas, Débora Álvares – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O resultado da eleição para a presidência da Câmara colocou na berlinda a continuidade do chamado "centrão", grupo formado por deputados de partidos de média e pequena expressão e que apoiava o candidato derrotado Rogério Rosso (PSD-DF).
"O jogo agora é outro. O cenário, neste momento, é de indefinição. Vamos ter que sentar e decidir, com maturidade, se vamos seguir juntos ou não. Até esse nome, 'centrão', ficou com uma imagem muito pejorativa", afirmou o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB).
Reservadamente, parlamentares do bloco admitem que a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) com diferença de 115 votos deflagra o início do fim do grupo pluripartidário.
A bancada informal ganhou força sob a batuta do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e impôs diversas derrotas ao governo Dilma Rousseff, inclusive a maior delas, a aprovação da autorização para a abertura do processo de impeachment.
"O 'centrão' vivia uma situação irreal de votar junto a atropelar tudo e todo mundo. Só que agora eles não têm mais o maestro, que era o Eduardo Cunha. Acabou", resumiu Heráclito Fortes (PI), que é do PSB, partido que não integra o grupo.
Alguns dos principais nomes do "centrão" já admitem a possibilidade de o bloco perder força e unidade daqui para frente. O PR, por exemplo, um dos integrantes da ala, votou em peso no candidato do DEM.
Líder do PTB, Jovair Arantes (GO) não escondeu o incômodo com as traições. "Prefiro não fazer análises agora para não azedar o caldo. Sobre o futuro, não sei se o grupo seguirá com a mesma força e unidade, mas um número grande de deputados vai continuar junto, é da natureza se agruparem", disse.
Ex-deputado pelo PR, Bernardo Santana (MG) participou das articulações que levaram seu partido para a candidatura de Rodrigo Maia.
"Aquilo [o centrão] aconteceu porque havia um objeto, agora é diferente. Vamos ver o que acontecerá", afirmou.
Caso desapareça, o "centrão" de 2016 seguirá os mesmos passos de seu homônimo da Constituinte (1987 e 1988), que acabou virando sinônimo de fisiologia e desapareceu como grupo orgânico na esteira da baixa popularidade do fim do governo de José Sarney (1985-1990).
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