• Deputado Rogério Rosso defende o fim de reuniões exclusivas entre os partidos que compõem o grupo
Eduardo Bresciani, Isabel Braga - O Globo
-BRASÍLIA- A avaliação na Câmara ontem era de que a derrota de Rogério Rosso (PSD-DF) na disputa pela Presidência da Casa foi um golpe praticamente fatal no centrão, grupo de partidos médios que se aglutinaram por influência de Eduardo Cunha (PMDBRJ). A larga margem de votos na derrota para Rodrigo Maia (DEM-RJ), que venceu por 285 a 170, a defecção do PR e as cobranças do Planalto por unidade fazem com que o grupo já articule o seu fim. O próprio Rosso defende que os líderes dessas legendas não se reúnam mais de maneira separada.
— Um dos grandes desafios é virar a página e não olhar mais o governo com divisões dentro da base, olhar os partidos de forma homogênea. Se for fazer reunião, faz com todo mundo. Isso é importante, integrar toda a base agora — disse Rosso ao GLOBO.
O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), defende também um trabalho para desconfigurar o centrão como forma de permitir a unificação de toda a base. Um dos articuladores da candidatura de Rodrigo Maia, ele acredita que uma continuidade dessa fragmentação poderia gerar problemas para o presidente interino Michel Temer.
— Estigmatizaram partidos importantes da vida brasileira, e a forma mais eficaz de resolver é a desconfiguração (do centrão), fazendo os partidos da base conviverem irmanamente — disse o tucano.
O discurso da busca de unidade é entoado também pelo líder do PMDB, Baleia Rossi (SP):
— O clima é de pacificação. A disputa foi respeitosa. A prova de que o governo não interferiu é que o PMDB liberou a bancada. É preciso baixar a poeira.
Um gesto de distensionamento foi feito pelo líder do governo, André Moura (PSC-SE), que fez questão de participar da reunião de Maia com Temer. A indicação de Moura, construída pelo centrão e imposta ao presidente interino, foi o que levou Maia a romper com Cunha e iniciar o trabalho para sucedê-lo. Moura tem agora a difícil missão de curar as feridas de seu grupo e criar pontes com os vencedores para evitar que seu cargo seja colocado em risco.
Há quem acredite que, com a derrota de Rosso, o Planalto ficará menos refém do “toma lá, da cá” que vigorou nos tempos de Cunha. Na visão de uma pessoa próxima a Temer, a eleição de Maia gera mudança no eixo político, fazendo com que PMDB se realinhe ao PSDB e ao DEM (o antigo PFL), remontando à coalizão que imperou durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A avaliação é de que o centrão não terá forças para retaliar o governo, mesmo que proteste pela falta de apoio explícito a Rosso. Logo após a votação, Temer tratou de telefonar para Rosso e o cumprimentou pelo desempenho. Os ministros do núcleo político também entraram em contato para confortá-lo.
— Não vai haver retaliação do centrão. Se tentarem retaliar, não vão aguentar a resposta do Diário Oficial, que é o oxigênio deles — diz esta fonte.
Para evitar sequelas nesta eleição, o governo terá o cuidado de tratar com atenção os cerca de 170 deputados do centrão. A ordem é atender a todos, acelerar as nomeações para cargos e atendimentos das demais demandas e cobrar, em troca, fidelidade ao Planalto. O governo avalia que a batalha pela sucessão de Cunha foi muito acirrada e deixou “corpos pelo caminho”. Os auxiliares mais próximos de Temer acreditam que os traumas da disputa podem ser resolvidos com ações pontuais. E que, em poucos meses, as mágoas estarão resolvidas.
— Temos que fazer a coisa funcionar de forma igualitária. Não tem mais o que barganhar, as nomeações e pedidos já foram todos negociados. Agora, é concluir esses acordos e, quando nomeados e com orçamento, que eles possam agir em prol do governo também — afirma uma fonte do Planalto.
Para um deputado da antiga oposição, o resultado da eleição para a Mesa e a derrota de Cunha na CCJ são sinais de que o centrão, como concebido originalmente, está com os dias contados.
— A curva do centrão é a mesma curva de Cunha — avalia.
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