• Caminhão atingiu multidão que celebrava Dia da Bastilha
Veículo atropelou pessoas por quase dois quilômetros em Nice; havia explosivos e armas a bordo, e motorista foi morto
Oito meses após o maior ataque terrorista na França, em Paris, o país voltou a sofrer, ontem, um atentado de grandes proporções quando um caminhão em alta velocidade atingiu a multidão que comemorava a festa nacional em Nice, na Riviera Francesa. Pelo menos 80 pessoas morreram, entre elas sete crianças, e cerca de cem ficaram feridas quando esperavam o show de queima de fogos. O veículo deixou um rastro de morte de quase dois quilômetros na mais popular avenida à beira-mar da cidade, e o motorista foi morto em troca de tiros com a polícia. Testemunhas disseram que ele, francês descendente de tunisianos, também atirou na multidão. Havia explosivos, armas pesadas e granadas dentro do veículo. O presidente François Hollande, que estava em Avignon, voltou a Paris e foi para o centro de crises. Mais cedo, ele tinha anunciado para o dia 26 a suspensão do estado de emergência que vigora em todo o país desde os ataques que deixaram 130 mortos em Paris, em novembro passado. Nenhum grupo reivindicou ainda a autoria do ataque.
Terror na festa da liberdade
• Caminhão jogado contra a multidão em Nice mata 80 na celebração do Dia da Bastilha
- O Globo
-NICE- No mesmo dia em que anunciou que iria suspender o estado de emergência no país, após os atentados de Paris em 13 de novembro do ano passado, que deixaram 130 mortos, o presidente da França, François Hollande, viu-se diante de mais um letal ataque contra o país. Desta vez em Nice, na Riviera Francesa, resultando em pelo menos 80 mortos — incluindo sete crianças — e até cem feridos. Todas as vítimas foram atropeladas por um caminhão que avançou contra a multidão que celebrava o Dia da Bastilha — a festa nacional, que marca o início da Revolução Francesa, em 1789. Contando com o atentado contra o semanário satírico “Charlie Hebdo” — 12 mortes — e os ataques subsequentes que mataram uma policial, na rua, e quatro clientes num supermercado de produtos kosher, em Paris, a França se depara com a média de um atentado a cada seis meses, que deixaram pelo menos 227 mortos e quase 500 feridos.
Hollande, que previa levantar o estado de emergência no próximo dia 26, estava em Avignon, também no Sudeste francês, retornou imediatamente a Paris para chefiar a célula de crise montada às pressas no Ministério do Interior, em reuniões que vararam a madrugada de ontem para hoje (hora local). Hollande se reuniu com o primeiro-ministro Manuel Valls e com o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve. A Procuradoria de Paris abriu investigação por terrorismo. Por volta das 2h da madrugada de hoje (hora local), Hollande falou à nação:
— Não há como negar a natureza terrorista deste ataque. Mais uma vez a forma mais extrema de violência cometida por fanáticos que rejeitam os direitos humanos. Presto solidariedade às famílias das vítimas — afirmou Hollande, ressaltando que o estado de emergência, imposto desde o atentado de Paris em novembro, seria prorrogado por mais três meses. — Vamos reforçar forças de segurança responsáveis pela vigilância contra o terrorismo, inclusive nas fronteiras. Também vamos reforçar ainda mais nossa ação no Iraque e na Síria. Mais uma vez a França foi atingida, mas somos mais fortes.
Polícia mata motorista a tiros
O motorista do caminhão foi morto em troca de tiros com a polícia. Documentos de identidade de um franco-tunisiano foram encontrados na cabine. Uma fonte policial informou que “a identificação do motorista está em curso”, acrescentando tratar-se de um homem de 31 anos, com residência em Nice. Nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque.
Segundo o prefeito de Nice, Christian Estrosi, o motorista abriu fogo contra a multidão antes de jogar o caminhão contra as pessoas. Ele disse que armas pesadas, explosivos e granadas foram encontrados no caminhão. A polícia informou que estava buscando possíveis cúmplices. “Permaneçam em casa”, pediu o prefeito pelo Twitter.
Cartão-postal da Riviera francesa, a Promenade des Anglais, à beira-mar, estava lotada de turistas em pleno verão europeu, reunidos no local para assistir à tradicional queima de fogos, por volta das 22h30m (hora local).
— Um caminhão branco avançou em plena velocidade para cima das pessoas, que estavam começando a deixar a orla. Passou muito perto de mim e só tive alguns segundos para me afastar: pulei de lado. Havia destroços voando para todos os lados, e tive que proteger meu rosto — contou o jornalista Robert Holloway, da AFP. — Depois disso, foi o caos absoluto. Muitas pessoas estavam gritando. Entendi logo que um caminhão daquele tamanho, com uma trajetória em linha reta, só poderia ser um ato totalmente deliberado.
De acordo com testemunhas, o caminhão percorreu quase dois quilômetros, em alta velocidade, atropelando o que estivesse pela frente — há relatos de que havia mais de um ocupante na cabine, mas isso não foi confirmado pelas autoridades.
— Foi uma cena de horror — disse o deputado local Eric Ciotti à France Info, contando que o caminhão acelerou, ao longo do calçadão junto à orla, “derrubando centenas de pessoas”.
O jornal “Nice Matin” informou que 42 feridos estavam em “condições críticas”. O caminhão, com a frente bastante danificada, ficou crivado de balas. Um forte esquema de segurança foi montado no Centro de Nice, com todo o perímetro do ataque isolado: militares, forças de elite, policiais e ambulâncias foram mobilizados. Paramédicos prestavam primeiros socorros na rua.
— As pessoas caíam como pinos de boliche — contou Jacques, dono de um restaurante.
Ataques com veículos têm sido usados por membros de grupos militantes, particularmente em Israel, mas também na Europa, embora nunca com efeito tão devastador. Com 350 mil habitantes, no departamento francês dos Alpes Marítimos, Nice já registrou moradores muçulmanos viajando para a Síria, para se juntar ao Estado Islâmico.
Durante a madrugada, o Conselho Francês da Fé Muçulmana condenou o “hediondo e abjeto” ataque. Líderes mundiais também reagiram.
— Somos solidários à França, nosso mais antigo aliado, no momento em que ela enfrenta esse ataque — afirmou o presidente dos EUA, Barack Obama, oferecendo ajuda dos EUA na investigação. — Sabemos que o caráter da República Francesa vai durar muito tempo depois dessa devastadora e trágica perda de vidas. Neste Dia da Bastilha, somos lembrados da extraordinária resiliência e dos valores democráticos que fizeram da França uma inspiração para o mundo inteiro.
A nova premier britânica, Theresa May, disse que o Reino Unido está chocado, e também ofereceu solidariedade aos franceses.
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