- Valor Econômico
• A eleição botou preço no desgaste sofrido pelo PT
Dois políticos do PMDB, um do círculo palaciano de Michel Temer e outro governador de Estado, têm apreciações muito parecidas sobre o resultado eleitoral do primeiro turno, realizado no domingo, e exatamente o mesmo prognóstico sobre o que espera os novos governantes das cidades: ou eles fazem o ajuste das contas públicas ou serão engolidos na travessia até 2018. Isso serve também e sobretudo para o presidente Temer, cuja única veleidade, na opinião de ambos, deveria ser entrar para a história, o que ele somente conseguirá se deixar prontas, ao fim do mandato, em 2018, as condições para a recuperação da economia.
Para o governador Paulo Hartung, do Espírito Santo, uma eleição não leva à outra e esta, muito menos. É a mesma opinião do secretário-executivo do Programa de Parceria e Investimento (PPI), Wellington Moreira Franco. A eleição municipal, na realidade, influi mais na formação das bancadas das Assembleias Legislativas e Câmaras dos Deputados. Mas tem fatores que podem influir no processo sucessório presidencial, dois anos mais tarde. E a eleição de 2016 apresentou pelo menos dois atores significativos, à primeira vista.
O primeiro fator: colocou um preço no desgaste do PT. O partido de Lula ficou muito menor, foi praticamente varrido das capitais e passou de terceiro para o décimo lugar no ranking nacional de prefeitos. Uma devastação. Isso significa que Lula está morto para 2018? Não. Nem o PT. Depende de muitas coisas, entre elas, a firmeza com que o governo Temer vai tratar de uma crise que requer medidas impopulares para ser superada. É uma agenda capaz de queimar projetos políticos, bem ao gosto da oposição, mas não tem como ser evitada. Se der certo, o PT terá uma bandeira a menos em seu processo de reconstrução.
O segundo elemento, mas não menos importante, é a vitória de Geraldo Alckmin em São Paulo. Ela organiza temporariamente o PSDB, o partido vencedor das eleições. Por se tratar de uma outra sigla, ainda mais aliado do governo, o secretário e o governador evitam se aprofundar sobre o impacto da vitória de Alckmin. Com razão: ela tem repercussões internas no PSDB ainda em avaliação pelos tucanos.
O ministro José Serra (Relações Exteriores), apontado como o maior perdedor diante da vitória de Geraldo Alckmin, não abandonou seu projeto presidencial, muito embora, de fato, tenha ficado ainda mais distante do chanceler uma eventual indicação do PSDB. No grupo tucano-pessedista que apoiou Marta Suplicy (PMDB) em São Paulo, já há uma evidente tentativa de reduzir a vitória alckmista, um golpe de sorte ao bancar um projeto eleitoral em cima das grandes manifestações favoráveis ao impeachment. Alckmin apenas surfou no antipetismo da cidade.
Paulo Hartung está na sua terceira passagem pelo governo do Espírito Santo, onde fez um ajuste de contas exitoso, ainda no primeiro mandato. Quando o Palácio do Planalto quer retirar o nome de Michel Temer da lista de especulações, costuma apontar Hartung como uma alternativa real para 2018. O governador gosta de ver o seu nome lembrado, mas tem uma opinião muito particular sobre a possibilidade de o PMDB concorrer com um candidato próprio daqui a dois anos, o que não acontece desde 1994: difícil.
O problema, segundo o raciocínio de Hartung, é que já faz muito tempo que o PMDB trocou a ideia de ter um projeto nacional por um projeto regional de poder. As eleições de 2016 são uma prova disso: o PMDB foi novamente o partido que mais elegeu prefeitos na eleição. Nem sempre vence em vitrines nacionais como o Rio de Janeiro, mas sempre está na disputa do poder estadual. Sendo uma confederação, até as derrotas são da seção regional que não teve sucesso na empreitada eleitoral.
O Rio é um caso típico. A candidatura do deputado Pedro Paulo foi uma teimosia do prefeito Eduardo Paes. O governador licenciado Luiz Fernando Pezão queria a troca do candidato, que já entrou na disputa queimado por uma denúncia de violência doméstica. Paes não deu o braço a torcer. Muito mais que o "Fora Temer", pesou na eleição do Rio o desgaste do PMDB carioca, que levou o Estado à insolvência financeira. Fadiga de material. Já o desempenho do PMDB de São Paulo tem as digitais do presidente, que bancou a filiação e a candidatura de Marta. Ainda assim a performance do PMDB paulistano ficou dentro do que em geral se espera da sigla.
O presidente Temer atinge um ponto de não retorno com o fim das eleições, que vinham servindo de pretexto para o adiamento das reformas. Segundo Hartung, o presidente hoje seria o único político do PMDB capaz de juntar o partido em torno de seu nome. Mas ele não deveria contar com o sucesso eleitoral que foi o Plano Real para Itamar Franco, em 1994. Ao decretar o fim da superinflação, o Real abriu a possibilidade de distribuição da renda imediata, um efeito da queda brusca da inflação. O ajuste que precisa ser feito, ao contrário, será uma distribuição de sacrifícios.
Para Hartung o governo é ruim de rua, mas sabe compor maioria no Congresso. "O ambiente para as reformas no Congresso melhorou". Aliás o próprio João Doria, o celebrado candidato do PSDB em São Paulo, é um nome comprometido com concessões e parcerias público-privadas. Moreira Franco, por seu turno, acha que o governo deve agora patrocinar um movimento inverso e procurar as ruas para explicar por que o país precisa das reformas.
A expectativa de ambos é que, para cada reforma aprovada haja uma resposta da economia, permitindo uma retomada que pode ser mais expressiva na medida em que as votações na Câmara dos Deputados e no Senado forem bem. Periga dar certo. Mas, para isso, o presidente e seu governo, desde já, deveriam se imunizar da tentação eleitoral em 2018. Moreira vai além: para dar certo, Temer não só deve abrir mão de concorrer à reeleição, em 2018, como também abandonar a ideia de apoiar algum candidato. Ele acha que a questão econômica é incompatível com a questão eleitoral. Temer deve pensar na história. "É a história ou a irrelevância", diz Hartung.
Os dois sabem que é preciso combinar com os russos que habitam o Planalto e suas cercanias. Moreira, amigo e conselheiro, diz que não se deve duvidar da sinceridade de Temer quando ele diz que não será candidato à reeleição.
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