- O Globo
A bem da verdade, não é apenas o senador Renan Calheiros que está se movimentando no cenário político de olho na eleição do ano que vem, cuidando do próprio umbigo, sem levar em conta os interesses do país. Ele é apenas o mais espalhafatoso dos que, atingidos pela Lava-Jato, veem-se em situação de perigo , e esperneiam.
De uma maneira ou de outra, todos os políticos já estão de olho em 2018, especialmente aqueles que julgam ter alguma possibilidade de virem a ser eleitos presidente da República, de Lula a Bolsonaro; de Ciro Gomes a João Doria; de Geraldo Alckmin a Marina Silva. Cada um busca se posicionar no grid de largada, e por isso tanta falação antes da hora.
Assim como para Renan a reeleição é matéria de vida ou morte política, para Lula a única saída diante dos processos que tem na primeira instância da Justiça é ser candidato a voltar ao Planalto, mesmo que essa não fosse sua escolha prioritária. Embora apareça em primeiro lugar nas pesquisas, é previsível que Lula tenha muita dificuldade numa campanha eleitoral em que será confrontado com todas as acusações contra ele.
E dizer que Lula elege qualquer um que apontar como seu substituto, na hipótese de vir a ser preso devido a uma condenação na segunda instância antes da eleição, não passa de uma balela. Depois de ter apontado a ex-presidente Dilma para ser sua sucessora, e ter provocado as maiores crises financeira e política pelas quais já passou o país, qual é a credibilidade que Lula terá ao apontar Ciro Gomes, Fernando Haddad ou qualquer outro como seu candidato?
Ciro já se coloca como o oposicionista desbocado, espécie de Fernando Collor atualizado. Mas em 1989, Collor era uma novidade, e chamar o então ex-presidente Sarney de “ladrão” com todas as letras na televisão era o novo na política. Ciro Gomes não é mais novidade, e quando foi, perdeu-se pela língua solta.
Da mesma maneira que já vem se perdendo antes mesmo de o jogo começar agora, ao dizer que receberá a Polícia Federal a bala se for buscado em casa como Lula foi. Depois, numa universidade estrangeira, tentou colocar-se como o “candidato do meio”, mesmo em contraponto a Lula. Não deve ser candidato se Lula for, mas nunca se sabe.
Lealdade maior devida a um chefe político não há igual a que o prefeito de São Paulo, João Doria, deve ao governador Geraldo Alckmin. Mesmo assim, em meio a juras de lealdade, Doria não abre mão de alimentar uma possível candidatura presidencial.
A última nesse sentido foi em entrevista da GloboNews, com Mario Sérgio Conti. Negou que seja candidato, mas mostrou-se fiel ao padrinho Alckmin quando lembrou uma das muitas lições que aprendeu com ele: é o povo que define uma candidatura, não é o que nós queremos. Doria monta uma imagem de anti-Lula que faz muito sucesso em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.
Se em Alagoas Lula é quase uma unanimidade a favor, em São Paulo também o é, mas contra. E disso se aproveita Doria para fixar uma imagem nacional. Seu padrinho, Geraldo Alckmin, que andou pedindo que o PSDB se definisse este ano para entrar em 2018 com o candidato escolhido, agora, que tem a sombra inesperada de Doria, já acha melhor deixar o caso para o ano que vem.
E vê outra sombra: uma candidatura de Temer com o apoio do PSDB, dominado pelo senador Aécio Neves que, inviabilizado pelas denúncias que vem recebendo na Operação Lava-Jato, preferiria um candidato de fora a permitir que Alckmin concorra pela segunda vez. Uma manobra difícil de acreditar, já que Temer se tornar um candidato viável à reeleição parece, a esta altura, impossível.
Assim como Ciro Gomes, outro candidato a lobo solitário na campanha presidencial é Jair Bolsonaro, que também morre pela língua. Fala bobagens aos borbotões, contra negros, mulheres, qualquer minoria. Se chegar na corrida final, representará apenas os que, como ele, são minoritários numa sociedade civilizada que ainda somos.
Somos?
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