Por Marcelo Ribeiro e Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - Após uma semana de embates públicos que expuseram as fissuras do partido, a cúpula do PSDB selou ontem uma trégua durante reunião com os 27 presidentes dos diretórios estaduais. Alvo de críticas de uma ala do partido, o presidente interino, Tasso Jereissati (CE), obteve respaldo para permanecer no comando da sigla até dezembro, quando os tucanos elegerão uma nova Executiva Nacional.
Tasso recebeu o aval expresso do senador Aécio Neves (MG), que é presidente licenciado da sigla. "Eu escolhi o senador Tasso Jereissati como presidente interino", lembrou Aécio, afirmando que o correligionário lhe ofereceu a devolução do cargo. "Insisti a ele que permanecesse, e novamente estou dizendo que é ele que tem hoje as melhores condições de conduzir o partido até dezembro. Vamos todos ajudar", completou. Mas Tasso voltou a defender a necessidade de "autocrítica" do PSDB e de outros partidos e ressaltou que as divergências continuarão.
Aécio abriu a reunião na sede do partido em Brasília, mas não ficou até o final. Segundo relatos de participantes do encontro ao Valor, o senador mineiro defendeu-se das acusações que levaram ao seu afastamento do mandato e do comando do partido e declarou-se "vítima" de uma perseguição do Ministério Público. Enfatizou que as provas revelarão sua inocência, e deixou o local na metade da reunião.
A veiculação do programa partidário apontando os "erros" dos tucanos e contestando o governo Michel Temer na semana passada irritou o grupo governista ligado a Aécio. Contudo, frustraram-se os movimentos, avalizados pelo Palácio do Planalto, para que o presidente licenciado retomasse o comando da sigla.
Tasso, por sua vez, negou qualquer confronto. "Não precisa selar paz onde não tinha guerra". Negou a divisão interna e elogiou o debate público. "O partido continuará tendo divergências, e graças a Deus as tem, não somos um partido de pensamento único, esse é o partido comunista", afirmou. "Somos um partido exposto à variedade de ideias e opiniões".
Ele acrescentou que o debate sobre o rompimento com o governo Temer está superado. "É página virada essa questão de ficar ou não no governo, isso pertence ao presidente [Temer], é ele quem escolhe ministro e está à vontade para fazer o que quiser".
O cearense, que chegou a ser cotado como um possível candidato do PSDB à presidente em uma eleição indireta, caso Temer fosse afastado, agora se disse confiante de que não haverá interrupção de mandato. "O governo vai aos trancos e barrancos até o fim e o PSDB vai ter que ajudar", disse. "É a pinguela que vamos ter que ajudar a atravessar até a eleição", completou.
Tasso cometeu um deslize ao se referir à manifestação de Aécio na abertura da reunião: referiu-se a ele como "ex-presidente", corrigindo-se na sequência: "A presença do Aécio era importante como ex-presidente do partido, presidente afastado, no momento da primeira reunião com Executivas regionais, ele está muito envolvido com a reforma política".
Um líder tucano ligado ao grupo dos "cabeças pretas", que defende o desembarque do PSDB do governo Temer, disse ao Valor que a ala ligada a Aécio recuou da intenção de destituir Tasso depois da demonstração da maioria dos presidentes dos diretórios regionais de solidariedade com Tasso por causa das críticas ao programa partidário.
Um dos participantes da reunião classificou a decisão como "ponderada" e destacou que esse foi apenas "o primeiro passo" para que a relação dentro do partido seja pacificada.
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