- Folha de S. Paulo
A festa para comemorar as privatizações de Michel Temer continua na Bolsa de São Paulo. No entanto, na coalizão do governo começam operações de sabotagem ou crítica técnica às vendas que são o filé do programa, a Eletrobras e os maiores aeroportos do país.
As estatais elétricas são dos últimos fazendões de cargos, pelo que tais empresas constam muitas vezes e outras na literatura dos casos de corrupção.
Furnas, por exemplo, é um caso no ar pelo menos desde o governo FHC, sob suspeita de ser vampirizada de modo ecumênico, por partidos variados, tal como a Petrobras.
Governadores, parlamentares e interessados vários discutem ainda de modo informal como complicar a venda de Furnas e da Chesf, o grosso da Eletrobras.
A oposição se organiza principalmente em Minas Gerais, em Pernambuco, na Bahia e no Rio de Janeiro, embora a privatização vá "incomodar o pessoal do Nordeste inteiro", diz um parlamentar.
A birra é multipartidária, vai do PT ao PMDB, passando por PSDB, DEM e PSB. Há quem sugira desde já o lançamento de uma "frente de defesa" dessas estatais. Os mais comedidos acham que é melhor esperar e agir nas internas, pois o tempo estaria a favor de quem se opõe à privatização.
Além do mais, nem se sabe muito bem como o governo pretende vender a Eletrobras, assunto que fica mais esquisito a cada entrevista enrolada das autoridades envolvidas, que de resto ainda vão passar vexame com essa história de que a privatização vai reduzir o preço da luz, no curto ou no médio prazo.
O governo, por ora, diz vagamente que quer apenas aumentar o capital da estatal elétrica, pulverizando a venda de ações de modo a se tornar minoritário, mas ainda detentor do maior bloco de ações.
Quem vai mandar de fato na empresa (governo e políticos até hoje dão palpite na Vale)? Se não o governo, um outro minoritário maior, como o banqueiro Juca Abdalla, próximo de Michel Temer? Ou vai haver vários minoritários relevantes, a se engalfinharem em disputas societárias que levam a empresa para o buraco (caso de pelo menos duas teles privatizadas)?
Como se não bastasse essa dúvida séria e imensos problemas regulatórios, há a oposição política.
Para adversários governistas da privatização, o governo tem pelo menos dois problemas grandes para tocar o negócio.
Primeiro, será necessário modificar leis a fim de permitir que o governo se torne minoritário na Eletrobras —até o início de setembro, o governo baixa uma medida provisória sobre o assunto.
"Então, a negociação começa por aí. Precisa definir modelo [de venda] antes de querer passar uma lei. Para passar a lei, vai ter conversa. Isso demora. Aí, já vamos para a eleição", explica o político pernambucano, que pede anonimato.
Segundo, diz o representante desse grupo de políticos, o governo está "desesperado em várias frentes. Se quiser tudo, não vai levar quase nada. Já vai levar pouco", diz o parlamentar referindo-se a projetos governistas no Congresso. O governo poderia ainda levar um "pedacinho" de reforma da Previdência e, mais urgente, tem o reajuste fiscal de emergência para aprovar, as medidas do pacote de agosto.
"Se não conversar sobre Chesf e Furnas, pode chegar a dezembro no desespero", diz o parlamentar.
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