- Folha de S. Paulo
O Brasil vive uma tempestade perfeita: crise econômica, social e política. A descrença no país é geral. É o legado da era PT. É um ótimo momento para um partido de oposição aos últimos governos falar à nação e lançar um plano ousado, um projeto de país capaz de corrigir os erros passados, nos colocar na rota do crescimento e apresentar uma visão positiva de tudo aquilo que podemos ser. Na quinta passada, o PSDB teve dez minutos em rede nacional no horário nobre para falar ao Brasil. Era a oportunidade ideal.
Infelizmente, o PSDB errou. O que se viu foi uma peça vaidosa, que coloca um exame de consciência partidário antes dos problemas nacionais. Nem uma palavra sobre a recessão, sobre o desemprego, nada sobre a criminalidade fora de controle. Para o partido, os males do Brasil se resumem ao "toma lá, dá cá" de Brasília. Afirma e repete que "o PSDB errou" ao participar desse jogo, mas agora quer ajudar a consertar o sistema.
A solução viria do documento da fundação do partido em 1988: o parlamentarismo. Haja naftalina! Daí em diante é uma longa explicação abstrata sobre essa forma de governo. Não nego que tenha méritos, mas coloquemos em perspectiva: 13 milhões de desempregados. 60 milhões de endividados. Estado quebrado. Criminosos no poder. 28 mil assassinatos só no primeiro semestre. Lula x Bolsonaro como cenário possível. Parlamentarismo? O PSDB convida a "pensar no Brasil" quando o momento pede um plano de ação claro e decisivo.
O desastre que vivemos hoje, ademais, não é decorrência "do sistema". Ele tem uma história. Foi gestado e desencadeado pelos governos do PT. Isso deveria estar sendo martelado continuamente, porque a narrativa oposta –de que é tudo culpa dos neoliberais– já está sendo vendida sem pudores pelos autores da catástrofe.
Mais do que em planos de governo ou partidos, o brasileiro vota em pessoas. Onde estão as pessoas do PSDB capazes de tomar as rédeas do Estado, unir os brasileiros e guiar os rumos do país? Mal figuram em sua propaganda oficial. O partido parece estar sempre pedindo desculpas, indo além do esperado para se mostrar bonzinho e praticar o "fair play", tomando a culpa para si mesmo quando é inocente. Aceita a premissa mentirosa de que a esquerda tem, de largada, algum tipo de superioridade ética.
Enquanto isso, um criminoso condenado está em campanha presidencial aberta tentando incitar negros contra brancos, nordestinos contra "sudestinos", para voltar ao poder, censurar a mídia e terminar o trabalho de sua antecessora. Aposto que, à noite, ele dorme como um bebê.
A chance de evitar o pesadelo Lula x Bolsonaro depende de dois fatores: um é a celeridade da Justiça. O outro é uma candidatura sólida de centro-direita: que apresente resultados em vez de bravatas, inteligência em vez de ideologia, firmeza em vez de histeria, união nacional em vez de discursos de ódio (social, racial, sexual, regional), pessoas sérias no lugar de demagogos, que traga esperança e não paranoia.
Dá para contar nos dedos as opções viáveis em 2018. O PSDB é sem dúvida uma delas. Mas tem que perder a vergonha de ser grande. Autocrítica e exposições abstratas são boas na hora da discussão. Na hora de falar ao país, é preciso autoconfiança e uma narrativa que inspire.
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