- O Globo
A crise atual do PSDB tem a mesma origem das anteriores, mas com uma diferença fundamental. As anteriores, como esta, eram motivadas pela disputa para a definição de quem seria o candidato do partido à Presidência da República. Mas agora há um ingrediente que torna a solução mais difícil: a defesa de valores.
O senador Aécio Neves, presidente afastado, se continuar a controlar as bases partidárias, levará o PSDB a uma ligação carnal com o governo Temer. O outro lado do partido ficará isolado ou terá que procurar alternativas, porque o PSDB marcado pelo fisiologismo perde completamente o próprio sentido, vira um novo PMDB, o PMDBdoB. Não tem base na história do PSDB essa decisão de aderir ao fisiologismo.
Se o grupo do senador Tasso Jereissati, presidente interino, ganhar essa disputa com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a ala paulista do tucanato, recupera os valores do PSDB, e o partido pode ir para a eleição presidencial de 2018 com uma candidatura forte em defesa de valores.
Se o lado do Aécio ganhar a parada, o partido vai ficar ligado a esse governo do PMDB, impopular, marcado pelo fisiologismo, um governo que vai ser rejeitado nas urnas, rejeição que pegará o PSDB também. Aécio acha que o PSDB tem o compromisso de ajudar o governo Temer a aprovar as reformas da Previdência e tributária pelo menos, e atribui a isso a permanência no governo.
O senador Aécio Neves recusa essa divisão, que chama de simplista, entre os “fisiológicos” e os “estadistas”, e nega que esteja tramando uma retirada do senador Tasso Jereissati da presidência interina do partido. Mas espera que ele tenha um gesto em direção às alas do partido que se sentiram atingidas pelo programa que faz a mea-culpa do partido.
Já Tasso está convencido de que o programa partidário é apenas uma desculpa para tirá-lo do cargo e pôr o partido mais próximo ao governo Temer. Ele está sendo procurado por parlamentares que propõem uma rebelião caso seja destituído, alguns falam até em sair do partido em protesto.
Ele não acredita nessa solução, mas gosta da ideia de fazer um movimento interno de contestação, que leve para as ruas a insatisfação de parte do tucanato, e consiga a maioria para assumir a direção do partido em dezembro. O presidente interino definiu um calendário interno para o partido escolher uma nova direção nacional em dezembro e marcou o início do ano como o ideal para a realização das prévias para definir o candidato do partido.
Se houver prévias, o prefeito João Doria garante que não disputa com o governador Geraldo Alckmin. Caso o critério seja outro, como pesquisas eleitorais, por exemplo, ele continuará candidato a candidato à Presidência, pois o embate com Alckmin, seu padrinho político hoje um pouco afastado, não será uma decisão dele, e sim da direção nacional.
Mas é possível que desse movimento interno nasça uma nova candidatura, que saia da maioria do partido para se impor. Uma solução àla Macron na França, que seria uma solução para o partido se apresentar ao eleitorado recuperado em seus valores originais. Para permanecer no posto, Jereissati tem o apoio de importantes figuras do tucanato paulista, além do próprio Fernando Henrique: o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria estão juntos nessa empreitada.
A escolha do próximo presidente nacional do partido definirá quem está mais forte, e tudo indica que não há ambiente para forçar a saída de Tasso Jereissati antes do fim do ano. O governador de Goiás, Marconi Perillo, é o preferido de Aécio para presidir o partido, mas já há um movimento para invalidar essa escolha, sob a alegação de que um governador que buscará a reeleição não pode se dedicar ao partido em ano eleitoral dentro dessa conjuntura delicada.
Isso porque o objetivo de Perillo é bem mais alto: ele pretenderia, com o apoio de Aécio, vir a ser o candidato do partido à Presidência da República. Vira e mexe, o real motivo de toda essa crise dos tucanos continua no mesmo lugar. Agora, apimentada pela disputa pelo DNA do partido, que nasceu de uma dissidência contra o fisiologismo de Orestes Quércia no MDB e hoje volta a se aproximar do PMDB de Temer.
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