- O Estado de S.Paulo
Luciano Huck articulava partido, programa e equipe, mas pode ser tarde demais
Anunciada sua decisão de participar da política, mas não como candidato à Presidência, Luciano Huck fez o que mais ansiava desde que entrou na roda e passou a “apanhar” nas redes sociais: submergiu. Isso não significa que esteja feliz com as decisões. “Estou aliviado e de luto”, repete a interlocutores.
Aliviado porque os não-políticos ficam traumatizados ao entrar na mira. E, de luto, porque Huck não estava brincando quando quase assinou sua filiação ao PPS, integrou movimentos de renovação política, saiu conversando a torto e a direito e meteu a cara nos estudos. A verdade é que ele estava animado.
Tudo começou quando uma amiga avisou: “O Paulo Guedes está lançando seu nome para a Presidência”. Não é nada trivial, em especial se você não é político, não tem partido, não se chama Manuel nem mora em Niterói. Mas aquilo acionou em Huck o desafio, seu gosto pelo debate político, a certeza de que o Brasil está fadado a dar certo. Oito meses depois, os dois conversavam seriamente.
Paulo Guedes, um dos fundadores do Banco Pactual, é um liberal moderno por definição. Quando teve o estalo de que Huck seria um bom produto eleitoral, ele vislumbrou também nele o talento e a capacidade para presidir o País. Como convém a um homem de mercado, com formação em Chicago, o estalo veio com as pesquisas.
A dois anos da eleição, as pesquisas quantitativas têm muito menos importância do que as qualitativas, porque não são nomes que definem a campanha, mas a campanha e suas circunstâncias que apontam os nomes. As quantitativas perguntam em quem a pessoa votaria e ela responde o primeiro nome que vem à cabeça, entre os mais óbvios, que já disputaram eleições e exerceram mandato. Ex-presidentes que saíram com 80% de popularidade levam essa fácil.
As qualitativas captam interesses, percepções e ambições, como se fossem jogando papeizinhos com os requisitos numa caixinha e desenhando o perfil do “cara” para aquele momento, naquelas circunstâncias. Em resumo, traçam tendências eleitorais.
A caixinha de Guedes foi preenchida com a ajuda da filha Paula, do site Jobzi, que aproxima oferta e procura de empregos e chegou ao perfil ideal para o “emprego” de presidente: jovem, empreendedor, dinâmico, bom comunicador, humanista, ativo nas redes sociais ¬– o “novo”. Assim Guedes “descobriu” Huck.
A primeira reação em contrário foi confundir celebridades com socialites. Huck não é uma socialite. É dos movimentos Agora! e Renovação-BR e iniciou uma peregrinação para conhecer e ser conhecido por Fernando Henrique, Armínio Fraga, Pedro Parente, Fernando Haddad, Roberto Freire, Marina Silva e craques em educação, saúde, gestão tecnológica.
Tinha uma sigla, contatos em várias outras, montava um programa de governo e já articulava, inclusive, uma equipe. Armínio na Fazenda? Parente (que resistia) como vice? Mendonça Neto (do DEM e ministro da Educação) na gestão? E, aos 46 anos, investia na sua geração, que tem o pé, e o cérebro, no Vale do Silício.
Tudo foi atropelado pelo timing: ao lançarem seu nome antes da hora, ele virou alvo fácil de um esquema poderoso de ataques. Ao lado de pesquisas encorajadoras, Huck dispõe de um rastreamento sofisticado desses ataques: os da turma do Lula, a soldo, têm origem clara e definida, os da turma do Bolsonaro, espontâneos, são difusos. Não havia tempo para articular o contra-ataque.
Como João Doria, Huck jogou a toalha, deixando uma ponta à mão. Ambos dependem do desempenho de Alckmin, mas o prazo de Huck é 6 de abril, último dia para filiação partidária de candidatos, e seu risco é repetir Jânio Quadros, que renunciou para voltar nos braços do povo e, ao desembarcar em São Paulo, só viu o fim da carreira: “Cadê o povo?”
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