- O Estado de S.Paulo
A recuperação da economia deixou de ser apenas uma aposta. Já está demonstrada em números sólidos.
Quem olhou para o resultado do PIB do terceiro trimestre divulgado nesta sexta-feira, pode ter ficado com a impressão de que o avanço não passou de coceirinha: apenas 0,1% sobre o segundo trimestre.
Curiosamente, desta vez, o resultado mais relevante foi visto pelo retrovisor. O IBGE revisou para mais tanto os resultados de 2016 (queda de 3,5% e não de 3,6%), como também os dos dois trimestres deste ano. O efeito mais importante dessas revisões é a nova percepção de que, em outubro, a economia já estava num patamar superior ao imaginado antes. Foi como se PIB do último trimestre estivesse ficado 0,6% acima do PIB de 2016.
No entanto, entre os números mais relevantes estão o bom avanço da indústria (mais 0,8% sobre o segundo trimestre), o aumento do consumo das famílias (1,2% sobre o trimestre anterior) e, o expressivo crescimento do investimento (1,6% sobre o trimestre anterior).
Não cabe ficar apenas com o passado. Há bom número de indicações de que a recessão ficou para trás. As vendas no varejo, por exemplo, mostram aceleração anual de pelo menos 2,0%, coerente com o aumento da ocupação (emprego) e com a sólida recuperação do poder aquisitivo: a inflação, inferior a 3,0% em período de 12 meses, está corroendo bem menos o salário.
Se isso for acoplado ao excelente desempenho das contas externas, fica composto o ambiente técnico, bastante favorável à recuperação.
A ameaça principal vem de outro lado. Vem da prostração das contas públicas e das incertezas políticas. “Quem castiga nem é Deus, é os avessos”, escreveu Guimarães Rosa. Esses dois fatores aí é que são os avessos.
O conserto das contas públicas não precisa agora de um retumbante superávit, embora a melhora da economia também tenda a empurrar a arrecadação. Precisa apenas de uma direção e da certeza de que o rombo no casco do navio está sendo consertado.
O avesso aqui está no fato de que os políticos parecem desinteressados de equacionar o déficit maior, o da Previdência Social. A decisão de empreender a reforma, ainda que precária e aguada, vai sendo empurrada com a barriga, sabe-se lá até quando.
A outra grande incerteza está no processo e no resultado das eleições. Estamos a apenas dez meses do primeiro turno e não há indicação de quem serão os principais candidatos à Presidência da República, nem quais serão as alianças que prevalecerão até lá.
Alguém poderia argumentar que é improvável que a política econômica a ser adotada pelo novo governo, seja ele quem for, volte às lambanças da nova matriz macroeconômica do governo Dilma e que, desse ponto de vista, importa menos quem envergue a faixa presidencial.
Não é bem assim. Como será inevitável a adoção de reformas dolorosas, o novo presidente terá de contar com o apoio do Congresso. E, nessas condições, será preciso ver qual será sua composição e que disposição terá de reverter os tais avessos.
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