O país começa 2018 com perspectivas razoáveis na economia, mas sujeito a elevada incerteza política e ao risco de retrocessos.
O crescimento da renda voltou, ainda que timidamente, e o desemprego começou a cair, também de modo vagaroso, antes do que se previa. Os juros recuaram ao menor nível da história, e a inflação se mantém sob controle.
Sem dúvida são progressos relevantes diante do quadro de um ano atrás. Para tanto, contribuiu uma administração racional das políticas de governo. Apesar do frustrante adiamento da imprescindível reforma da Previdência, outras medidas de impacto avançaram.
O amplo redesenho dos ditames da CLT, que há pouco entrou em vigor, ainda não gerou resultados palpáveis –espera-se que facilite, nos próximos meses, a geração de postos formais de trabalho.
A mudança no cálculo das taxas cobradas nos financiamentos do BNDES reduzirá despesas do Tesouro Nacional com subsídios; a iminente entrada em vigor do cadastro positivo contribuirá para democratizar o acesso ao crédito.
O ambiente internacional também colabora. No ano passado, o crescimento econômico acelerou na Europa e nos EUA, enquanto a China continuou a desafiar os prognósticos de crise.
Os preços das matérias-primas também se recuperaram, favorecendo emergentes como um todo. A se confirmarem as projeções, 2018 deve ser outro ano favorável.
Nesse quadro, o Brasil também virou a página da recessão. A confiança de famílias e empresas está em alta e, se não houver grandes solavancos, o país pode crescer 3% neste ano.
Os riscos, porém, são consideráveis. No plano global, o próprio dinamismo da atividade deve levar à alta mais rápida dos juros. A principal fragilidade, porém, é doméstica –as contas públicas ainda mostram rombo gigantesco, próximo de 9% do PIB.
Além da mudança previdenciária, ainda precisam passar pelo Legislativo todas as providências propostas pelo governo para cumprir a meta orçamentária. Para tanto, há que enfrentar os lobbies influentes do funcionalismo público, que se mobilizam para preservar privilégios e evitar o adiamento de reajustes salariais.
Se Executivo e Congresso se acovardarem devido à proximidade das eleições, o que está longe de improvável, o mercado financeiro e o setor produtivo ficarão mais vulneráveis aos sobressaltos políticos.
Será fundamental, ademais, que a campanha presidencial abrigue um debate mais honesto dos caminhos possíveis para o país. O preço das mistificações vitoriosas em 2014 ainda está sendo pago.
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