Prefeito vira principal nome tucano para a sucessão de Alckmin
Silvia Amorim / O Globo
SÃO PAULO - A decisão do senador José Serra (PSDB) de não disputar eleição este ano abriu caminho para o prefeito da capital paulista, João Doria, ser o candidato do PSDB a governador de São Paulo. Há outros dois pré-candidatos à vaga, mas, com a desistência de Serra, Doria passa a ser considerado o favorito na disputa.
Serra divulgou sua decisão em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”.
— Não vou disputar a eleição para governador nem pretendo concorrer a presidente neste ano. Tenho ainda cinco anos de mandato no Senado — disse o senador tucano, que foi acusado pelo ex-presidente da Odebrecht Pedro Novis de ter recebido R$ 52,4 milhões, de 2002 a 2012, entre propina e caixa dois. Serra nega ter recebido qualquer vantagem indevida da empresa.
A direção do PSDB em São Paulo ficou sabendo pela imprensa da desistência de Serra, assim como Doria e seus concorrentes — o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro, e o cientista político Felipe D’Avila.
— O senador Serra é um homem muito preparado, mas decidiu não participar da eleição, o que respeitamos. Temos agora três pré-candidatos e vamos ver como as coisas se encaminham — disse o presidente estadual do PSDB, deputado Pedro Tobias.
Até o momento, não há sinal de desistências em nome de uma candidatura de consenso ao governo paulista. Mas aliados de Doria consideram isso uma questão de tempo.
A estratégia agora é ampliar o que estão chamando de “onda pró-Doria”. Nesta semana, o prefeito recebeu o apelo público de 12 dos 20 deputados estaduais tucanos de São Paulo para que seja candidato. O gesto será repetido por prefeitos e deputados federais.
Embora diga em público que não vai interferir no processo de escolha do candidato a sua sucessão, o governador Geraldo Alckmin terá a palavra final nesta disputa. A eleição em São Paulo é peça-chave para os planos presidenciais de Alckmin. Não interessa a ele uma divisão no partido no maior colégio eleitoral do país, o que poderia fragilizar sua candidatura à Presidência da República.
DECISÃO EM MARÇO
O PSDB vai esperar a confirmação da candidatura de Alckmin à Presidência, no dia 4 de março, data da prévia nacional, para formalizar o sucessor do seu legado na próxima eleição estadual.
Alguns dirigentes do partido defendem que uma definição, mesmo que extraoficial, ocorra antes deste prazo para que os tucanos já possam articular as alianças para a eleição. Com a saída de Serra, diminuiu a expectativa de realização de prévias em São Paulo, o que deve abreviar o processo de decisão.
A movimentação do vice-governador Marcio França (PSB), que assumirá o governo em abril, quando Alckmin deixará o cargo, também tem pressionado o PSDB. França disputará a eleição para governador e anunciou nos últimos dias alguns partidos em sua coligação. Ele também ameaçou a demissão de todos os aliados de Alckmin do governo.
Apesar da preocupação de alguns tucanos, aliados de Doria disseram que a articulação política do vice-governador não atrapalha uma candidatura do prefeito, mesmo que anunciada tardiamente.
— Já não contávamos com os partidos que estão fechando uma aliança com ele. O nosso objetivo será repetir numa candidatura do PSDB em São Paulo o mesmo arco de aliados que Alckmin construirá no plano federal — explicou um interlocutor de Doria.
SINAIS TROCADOS
A declaração de Serra de que não será candidato ao governo de São Paulo nem ao Planalto pegou o tucanato de surpresa. Até o anúncio, ele continuava dando sinais trocados em conversas com lideranças do PSDB sobre a disputa eleitoral. Algumas chegaram a comentar nos últimos dias que o senador, ao voltar das férias esta semana, estava se mostrando com apetite para uma eleição.
Um tucano bem próximo de Serra, entretanto, vinha dizendo que não acreditava numa candidatura dele. A avaliação chegou ao próprio Doria em um encontro com um amigo de Serra dias atrás.
Antes do anúncio, auxiliares de Doria estavam trabalhando para agendar um encontro entre o prefeito e o senador. O prefeito tenta costurar uma saída da prefeitura o menos desgastante possível politicamente para ele, uma vez que está há apenas um ano na cadeira.
O distanciamento de Doria da rotina da cidade no final de 2017 para viajar pelo país e viabilizar uma candidatura ao Planalto fez sua aprovação despencar. A avaliação é que a população e muitos eleitores de Doria condenaram a postura dele por considerar que estava priorizando um projeto pessoal em detrimento do compromisso com a cidade, assumido nas urnas em 2016.
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