Após citar ‘luta de poder’ com o Congresso e criticar ações de governadores, presidente anuncia reunião com chefes dos Poderes para discutir crise
Redação | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – O dia em que o Brasil confirmou a primeira morte por coronavírus começou com o presidente Jair Bolsonaro insistindo nas afirmações de que há uma “histeria” na forma como a pandemia está sendo tratada no País. Em entrevista a uma rádio popular, ele criticou governadores que estão determinando o fechamento de repartições públicas e tem recomendado que a população fique em casa para evitar o contágio em massa. No fim da tarde, porém, o presidente adotou outro tom. Em suas redes sociais, disse que é preciso “somar esforços” com os outros Poderes para ajudar “uns aos outros”.
Após deixar de comparecer, anteontem, a um encontro com outras lideranças da América Latina para debater ações coordenadas para tratar a crise e a assistir os chefes do Legislativo e do Judiciário se reunirem para debater o novo coronavírus, Bolsonaro afirmou que irá se reunir hoje com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli.
A mudança de tom, segundo integrantes do Palácio do Planalto, ocorreu após Bolsonaro avaliar que sua narrativa de que estava sendo vítima de uma “luta pelo poder” com a cúpula do Congresso não emplacou. Também pesou o fato de que monitoramento de redes sociais mostram que o presidente está enfrentando uma queda de popularidade. Segundo a empresa AP Exata, a avaliação negativa do presidente, que já vinha em queda desde janeiro, se acentuou em fevereiro e prosseguiu em março, com picos de menções negativas principalmente envolvendo o comportamento do presidente em relação à crise provocada pelo coronavírus.
Desde domingo, Bolsonaro tem sido criticado por ter descumprido recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e dos seus próprios médicos e ter ido a uma manifestação contra o Congresso e do Supremo no Palácio da Alvorada. O presidente deve receber, hoje, o resultado do segundo exame para coronavírus. Quinze pessoas que estiveram com ele nos Estados Unidos, entre 7 e 9 de março já receberam resultado positivo para a doença.
“Superar este desafio depende cada um de nós. O caos só interessa aos que querem o pior para o Brasil. Se, com serenidade, população e Governo, junto com os demais poderes, somarmos os esforços necessários para proteger nosso povo, venceremos não só este mal como qualquer outro!”, escreveu o presidente no Twitter. Apesar do tom mais moderado do que o utilizado nos últimos dias, em que foi criticado por médicos e políticos por ter minimizado o efeito da pandemia, o presidente chegou a comparar o coronavírus com gravidez em uma transmissão ao vivo, também feita ontem: “Vai passar, desculpa aqui, é como uma gravidez, um dia vai nascer a criança. E o vírus ia chegar aqui um dia e acabou chegando”, declarou.
Governadores reagiram ontem à declaração de que eles podem prejudicar a retomada econômica com suas medidas para evitar a transmissão do covid-19. “Esse vírus trouxe uma certa histeria e alguns governadores, no meu entender, eu posso até estar errado, estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia”, disse Bolsonaro.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que o presidente deveria fazer dos chefes do Executivo estadual seus aliados. “E não tratá-los como inimigos e adversários nas causas do Brasil”. O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), disse, em entrevista à CNN Brasil, que ainda não recebeu nenhum convite para conversar com o Planalto sobre a pandemia. Rui Costa, da Bahia, afirmou que Bolsonaro abriu mão de “liderar o país”. “Ele não tem uma palavra que busque unir o Brasil em torno de uma solução. Só ataca as instituições, a imprensa, os governadores. A sociedade está à beira de um colapso e o presidente disparando a metralhadora contra todo mundo.” /
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