Presidente
não destravou pauta ultraconservadora, mas quer expandir aliança com centrão
Meses
antes de entregar cargos para os partidos do centrão, Jair Bolsonaro divulgou
um texto que dizia que o Brasil era “ingovernável”
fora do que chamou de “conchavos”. Naquela época, o Congresso servia de
obstáculo aos planos do presidente: o Planalto sofria derrotas em série,
enquanto os itens de estimação de sua pauta ficavam empacados.
Depois
de se ver ameaçado no posto, Bolsonaro recorreu aos tais conchavos para
sobreviver no poder. Até agora, a nova aliança não foi suficiente para
destravar sua plataforma ultraconservadora, mas o presidente trabalha para
expandir essa base.
Como
seria um governo Bolsonaro com maioria ampla no Congresso? Com uma coalizão de
tamanho razoável, o presidente já poderia liberar as armas de fogo para
qualquer cidadão, aprovar sua proposta
de taxar o seguro-desemprego e acabar com o uso obrigatório de
cadeirinhas para crianças nos carros.
Se
a base fosse ainda mais extensa, seus aliados conseguiriam antecipar a
aposentadoria de ministros do STF para ocupar mais cadeiras na corte. Teriam
força para incluir na Constituição uma proibição aos casos de aborto que hoje
são legais e reduzir a verba destinada à educação.
Por
enquanto, o centrão blinda Bolsonaro, mas ainda não adere aos pontos mais
radicais de sua agenda de campanha. O cenário pode mudar, a depender dos
benefícios de um eventual aumento da popularidade do governo, além da generosidade
do presidente na
distribuição de cargos para esses partidos.
Bolsonaro
segue uma trilha diferente dos autocratas que saem das urnas com maiorias no
Legislativo suficientes para mudar as regras do jogo e expandir seus poderes. A
coalizão do presidente brasileiro é uma construção artificial, que mira
políticos que têm limites programáticos e ideológicos relativamente flexíveis.
Em alguns casos, Bolsonaro e o centrão já falam a mesma língua. Há poucos dias, o líder do governo sugeriu uma nova Constituição para reduzir direitos dos cidadãos e limitar a ação de órgãos de controle.
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