Calote
em bancos está na mínima histórica, mas refresco pode acabar no Natal
É
um mistério o que vai ser da economia e da política brasileiras se e quando o
auxílio emergencial e outras ajudas acabarem, no final do ano. Uma das dúvidas
é o que o vai acontecer com
a inadimplência, atrasos no pagamento e calotes de empréstimos bancários.
A
inadimplência jamais esteve em nível tão baixo desde março de 2011, o registro
comparável mais antigo. O motivo não é difícil de entender, mas a situação
ainda assim é impressionante, de modo positivo, dado o tamanho da calamidade
neste 2020.
Dados
do Banco Central, dos bancos e da Febraban indicam que o aumento do prazo de
carência e outras renegociações aliviaram pelo menos temporariamente o serviço
das dívidas, em particular para famílias de menor renda e empresas pequenas.
Facilidades de empréstimos bancados ou regulados pelo governo também ajudaram,
além do fato das taxas de juros mais baixas. O auxílio emergencial e o
auxílio-salário seguraram a renda das famílias. Tudo isso em tese começa
a vencer em dezembro.
Ainda
assim, os bancos concedem mais crédito. O valor total dos empréstimos de
dinheiro novo para as famílias cresce quase nada em relação ao ano passado, mas
está em níveis próximos do que se viu nos meses pré-epidemia. No total, o valor
das concessões de empréstimos do trimestre julho-setembro é maior do que no
mesmo período do ano passado. O nível de endividamento das famílias (total de
empréstimos em relação à renda) também é o mais alto desde 2005, quando começa
essa série de dados do Banco Central.
Em
suma, os bancos não apertaram a corda. Ao contrário.
Diz-se por aí que o valor das provisões bancárias aumentou –trata-se do dinheiro que os bancos separam para cobrir calotes, grosso modo. É verdade. Mas, pelo menos na média dos bancos, vem caindo desde junho (pela medida das provisões como proporção do total de empréstimos). Além do mais, as provisões subiram menos e para níveis relativamente mais baixos do que os registrados nas crises de 2008-2009 e no fundo da recessão de 2016.
Esses
eram os números até setembro, segundo as estatísticas do Banco Central. Se essa
situação vai durar é um mistério, como se escrevia no início destas linhas.
Como também tantas vezes já se escreveu por aqui, o possível tombo de 2021
depende: 1) Da recuperação do emprego: haverá gente trabalhando e ganhando a
ponto de compensar o baque do fim do auxílio? 2) Se haverá confiança para
gastar a poupança acumulada pelas famílias, na média, neste ano; 3) Se os mais
pobres, que gastam toda ou quase toda sua renda, puderam guardar algum; 4) Se
famílias e empresas continuarão a tomar empréstimos, incentivadas por juros
menores; 5) Duração da epidemia.
Entre
os donos do dinheiro grosso, a confiança caiu, o que está explícito na alta das
taxas de juros no atacadão de dinheiro, desde agosto, e no preço do dólar ainda
nas alturas
do degrau de R$ 5,60. Essa pressão financeira pode desanimar investimentos
produtivos. A balbúrdia do governo pode assustar também consumidores. Os mais
pobres terão ainda mais problemas se a carestia da comida continuar depois que
o dinheirinho do auxílio acabar.
Praticamente
não há governo nem para cuidar das emergências financeiras de curto prazo,
menos ainda projeto de política econômica. Apenas depois da eleição vai se
saber o que Jair Bolsonaro e turma vão aprontar. Por enquanto, estão ocupados
com o dote do casamento com o centrão (ministérios) e, como sempre, com
problemas policiais.
O risco feio, enfim, é esse, como de costume: Bolsonaro.
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