A
'agenda prioritária' se desloca ao sabor dos interesses de quem almeja as
presidências da Câmara e do Senado
O
retrato mais fiel do frenético ritmo de negociação política dos últimos dias
em Brasília é
que a cada compromisso assumido por uma liderança interessada no comando
da Câmara e do Senado a
pauta da tal “agenda” prioritária da economia se desloca ao sabor dos
interesses de quem busca voto para a sucessão dos presidentes Rodrigo Maia e Davi
Alcolumbre. Os dois, inclusive, no páreo para a reeleição.
Uma
hora, a agenda é votar autonomia do Banco Central
(BC), marcos regulatórios (gás, cabotagem, mudanças nas regras de
mercado de câmbio), projeto de renegociação dos Estados, PEC
emergencial, PEC do pacto federativo, Renda Cidadã (o
programa social) e desvinculação de fundos públicos.
Outra hora, a reforma administrativa, enviada em setembro passa a ser a salvadora da pátria e a proposta mais importante. O novo capítulo da semana é a negociação de um acordo com os partidos de esquerda para a aprovação da reforma tributária em troca da inclusão de medidas de maior progressividade do sistema tributário.
Com
esse vaivém, fica difícil saber qual foi o último acordo. São tantos candidatos
caciques na Câmara, onde a briga é feroz, que cada um deles vai fazendo acordos
particulares e barrando as propostas dos concorrentes.
Quem
aposta na reforma tributária para impulsionar o crescimento e ficou animado com
a fala do autor da PEC 45, deputado Baleia Rossi,
de que um acordo está próximo para aprovar a proposta, em dois turnos, até o
fim do ano, pode se frustrar. É muito pouco tempo para a votação de um assunto
de tamanha envergadura e interesses dispersos, apesar da fala de Baleia de que
há um ponto de equilíbrio para a aprovação da reforma.
A
realidade que vai se impondo é a do cenário mais negativo: quase nada de
importante deve ser apreciado até o dia 18 de dezembro (última sexta-feira
antes do recesso), muito menos uma reforma tributária.
As
duas próximas semanas também serão perdidas com toda a atenção dos políticos
voltada para o início do julgamento do STF sobre a reeleição dos presidentes da Câmara e do
Senado. O julgamento começa na sexta-feira e se estende até o dia 11. Como
antecipou o Estadão, a tendência do plenário é decidir que a reeleição é
um assunto interno do Congresso. Por isso, os caciques só vislumbram uma
definição sobre os candidatos mais para o dia 15, a três dias do fim dos
trabalhos. É quando chega a hora de sentar à mesa, tomar um vinho, e fechar os
acordos finais.
Desde
setembro, a Câmara quase não produz. São oito semanas de votações paradas. Foi
aprovada apenas uma Medida Provisória de prorrogação de contratos do Incra e
indicações para o CNJ e para o CNMP. Uma sessão foi marcada para a próxima
quarta-feira, com projeto de estímulo à navegação de cabotagem. As medidas
provisórias da Casa Verde e Amarela e uma que abre crédito para vacina
contra covid-19 também estão na pauta.
O
desafio neste final de ano passou a ser aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para evitar um
shutdown da máquina por incapacidade de pagar as despesas em 2021. Algo que
deveria ser corriqueiro. Uma votação cercada também de incertezas, já que o Tribunal de Contas da União, como antecipou o Estadão há
20 dias, avisou que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) exige que o governo
fixe uma meta de resultado primário para as suas contas. O projeto de LDO foi
enviado sem meta em abril, no auge das incertezas da pandemia, e agora o
governo terá de fixar uma meta, se não quiser se responsabilizado de crime
fiscal.
Como
mostrou a repórter Camila Turtelli, que acompanha os trabalhos da Câmara
para o Grupo Estado, além do esvaziamento tradicional provocado pelo
período das eleições, obstruções feitas pelo Centrão e pela oposição
paralisaram as atividades da Casa. Foi assim no Senado, que por um longo tempo
parou as votações para os acordos para viabilizar a reeleição do presidente
Alcolumbre. No ano passado, ele tinha prometido entregar aprovação da PEC
emergencial até dia 10 de dezembro.
Após
as votações das medidas para o enfrentamento da covid-19, o Congresso parou. É
um vexame para o Congresso! Se as críticas contra o ação do ministro da Economia, Paulo Guedes,
se intensificaram nos últimas semanas, é preciso mirar também na direção
do Congresso e do Palácio do Planalto. A responsabilidade é geral.
A
responsabilidade é de todos.
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