Se
havia alguma dúvida de que o presidente Bolsonaro queria ter um sistema de
inteligência que o servisse, e à sua família, em termos pessoais, agora não há
mais. É devastadora a revelação de Guilherme Amado na revista Época de que a
Agência Brasileira de Informação (Abin) fez pelo menos dois relatórios para
orientar a defesa do senador Flavio Bolsonaro na tentativa de anular as
investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre o esquema de
“rachadinha” montado por ele e outros deputados estaduais na Assembléia
Legislativa do Rio.
O
diretor-geral da Abin é ninguém menos que o delegado Alexandre Ramagem, o mesmo
que Bolsonaro queria ter nomeado para a direção-geral da Polícia Federal, e foi
impedido por decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal
Federal. A alegação para proibir sua nomeação foi evitar o que aconteceu agora.
O delegado tornou-se amigo da família quando passou a fazer a segurança pessoal
do então presidente eleito Jair Bolsonaro, e a partir daí sua proximidade com o
clã tornava sua nomeação potencialmente uma afronta ao princípio da
impessoalidade, da moralidade e do interesse público, exigências para a
nomeação de servidores.
Justamente no momento em que, por não concordar com a nomeação, o então ministro da Justiça, Sergio Moro, pedia demissão e acusava o presidente Bolsonaro de interferência na Polícia Federal. Aliás, esse caso da Abin já teve um começo escandaloso, quando foi denunciada pelo próprio Guilherme Amado uma reunião no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Bolsonaro, do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, o diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, com os advogados do senador Flavio Bolsonaro, para discutirem caminhos para a defesa do filho do presidente das investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Na
ocasião, o ministro Augusto Heleno admitiu que houve a reunião, mas disse que
nada foi feito porque verificou que aquela não era uma tarefa que dissesse
respeito à segurança institucional do país. Já era escandalosa a reunião em si,
mas a garantia de que nao houve consequências dela pareceu satisfazer. Os
documentos obtidos pelo repórter da Época, porém, tiveram a autenticidade e a
procedência confirmadas pela defesa do filho do presidente, o que colide com
mais uma negativa do General Augusto Heleno, que voltou a afirmar que não
partiram da Abin tais informações.
Acreditando-se
no depoimento do General, e sabendo-se que os documentos vieram da Abin, por
WhattsApp, para a defesa de Flavio, é factível acreditar que funciona na Abin
uma inteligência paralela que alimenta a defesa do filho de Bolsonaro sem que o
chefe da inteligência brasileira tenha conhecimento, o que aumentaria a
gravidade do caso.
O
caso do filho 04 do presidente Bolsonaro, Renan Bolsonaro, que teve a festa de
inauguração de sua empresa de eventos filmada e fotografada gratuitamente por
uma firma que tem contratos com o governo federal, é um trambique mixuruca,
medíocre, coisa de republiqueta de banana. Comparável com o ex-presidente da
Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, que perdeu o posto porque extorquia
uns caraminguás do concessionário do restaurante da Casa.
Tem
que punir, não se pode aceitar, mas o caso da Abin é gravíssimo, e passível de
impeachment do presidente por improbidade administrativa. É o presidente usando
órgãos de investigação do Estado brasileiro para proteger seu filho. E para
desmoralizar outros serviços públicos, como a Receita Federal e o Coaf. Não se
pode aceitar isso. Estamos vivendo num país em que coisas anormais viram
normais.
Houve
uma reunião no Palácio do Planalto, no gabinete do presidente, para usar a
agência de segurança nacional, instituição do Estado brasileiro, para resolver
problemas de acusação de corrupção da família do presidente.
É um coquetel de mal-feitos. Faz contato com a investigação que está sendo realizada no Supremo Tribunal Federal (STF) pela denúncia de interferência na Polícia Federal, dando indícios graves do que estava sendo tramado no entorno do presidente. Quem quiser ligar os pontos, terá uma imagem perfeita do que acontece nesse governo que mistura o público com o privado como nenhum outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário