O
Brasil de Bolsonaro é um arremedo patético da cidade de Odorico Paraguaçu
Circula
na internet um trecho de assustadora atualidade da novela "O
Bem-amado", escrita pelo genial Dias Gomes e exibida com grande sucesso
pela Rede Globo em 1973. Na cena, o prefeito da fictícia Sucupira, Odorico
Paraguaçu, planeja interceptar a carga de vacinas que poderia impedir um
morticínio na cidade, assolada por uma epidemia.
Horrorizado, seu auxiliar, Dirceu Borboleta, alerta que seria um genocídio. Odorico responde com um: "E daí?". Para quem não conhece a história, o principal objetivo do prefeito era inaugurar o cemitério da cidade. Mas seu projeto se frustra ao longo dos capítulos porque ninguém morre.
No
Brasil de 47 anos depois, o drama da vida real é o oposto. O coronavírus já
matou 180 mil cidadãos. Mas o desprezo de Bolsonaro pela vida dos brasileiros é
o mesmo do político da ficção. A segunda onda da pandemia chegou, tão ou mais
feroz que a primeira, mas o presidente acha que estamos "no
finalzinho" dela. Em ócio despreocupado, protagonizou cena digna de
comédia pastelão ao inaugurar uma vitrine com as roupas usadas por ele e pela primeira-dama
na posse.
Enquanto
Bolsonaro se presta ao ridículo, as autoridades federais de saúde exibem sua
incompetência, depois de terem sido atropeladas pelo governador de São Paulo.
Doria criou um fato político ao marcar a data para o começo da imunização no
estado, em janeiro de 2021, com a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan.
Ficou
patente o despreparo do almoxarife atarantado que ocupa o Ministério da Saúde.
Pazuello não tem um plano de vacinação e ainda se pergunta se haverá
"demanda" por vacinas. Num país que já foi exemplo para o mundo em
imunização, nem sequer sabemos se haverá seringas e agulhas em quantidade
suficiente. A Anvisa, colonizada por defensores da cloroquina, não inspira
confiança quanto à aprovação dos imunizantes. O Brasil de Bolsonaro é um
arremedo patético da Sucupira de Odorico Paraguaçu.
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