Nova
acusação: o uso do aparelho de Estado em defesa dos filhos
O presidente Jair Bolsonaro sabia que a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que não é órgão de governo, mas de Estado, orientou a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na tentativa de salvá-lo da acusação de ter embolsado dinheiro público quando era deputado estadual no Rio de Janeiro?
Essa
é mais uma pergunta que teima doravante em não calar, e que se reúne a um monte
de outras que Bolsonaro e seus auxiliares se recusam a responder. Uma não tão
antiga: por que Fabrício Queiroz e Márcia, sua mulher, depositaram 89 mil reais
na conta bancária de Michelle Bolsonaro, a primeira-dama?
Se
Bolsonaro sabia que a ABIN, chefiada por um delegado amigo dele e dos filhos,
ajudou a defesa de Flávio, cometeu crime de responsabilidade previsto na
Constituição e está sujeito a responder a processo de impeachment. O
Centrão, seu aliado, tem votos para impedir a cassação do mandato. A não ser…
Que
ironia! No dia em que se tornou público que a ABIN, em dois relatórios enviados
a Flávio e aos seus advogados, ensinou-lhes o caminho das pedras para garantir
a impunidade do senador, um juiz paulista arquivou processo por falta de provas
contra Lula e seu filho Lulinha, investigados por lavagem de dinheiro.
É a sétima investigação contra Lula que é encerrada por falta de elementos ou absolvição. Lula foi condenado apenas em processos abertos perante a Lava-Jato de Curitiba, conduzidos pelo então juiz Sérgio Moro. O Supremo Tribunal Federal ainda irá analisar a suspeição de Moro e poderá anular as condenações.
No
seu primeiro mandato como presidente, Lula apanhou sem dó nem piedade porque
uma lancha a serviço do Palácio da Alvorada foi usada por seus filhos
adolescentes para um passeio com amigos no lago Paranoá. O ato configurava
quebra de decoro, de abuso do cargo por parte do pai omisso e cúmplice dos
filhos.
Bolsonaro
tem quatro filhos homens, adultos, e uma filha ainda criança. Sorte do Brasil
que não tenha mais. Os três primeiros zeros são alvos de denúncias de
corrupção. O quarto zero montou uma empresa de eventos, passou a fazer lobby
para empresários e usufrui favores de um prestador de serviços ao governo do
pai.
Por
certo, nada que seja estranho a Bolsonaro. Como os filhos, ele já empregou
funcionários fantasmas em seu gabinete quando era deputado. Manteve um
apartamento funcional cedido pela Câmara embora fosse proprietário de outro em
Brasília. Costumava pagar despesas com dinheiro vivo como os filhos fazem.
Dotado
de uma inteligência apenas mediana e de nenhuma emocional, desprovido de
escrúpulos, não distingue entre o público e o privado e mistura tudo para
extrair vantagens. O bem estar e o enriquecimento da família estão acima de
qualquer coisa, incluindo os interesses do país que preside acidentalmente.
Não
será fácil para ele escapar sem graves sequelas do Abingate. Local do crime: o
Palácio do Planalto onde há poucos meses a operação para proteger Flávio foi
discutida. Sócios do crime: Bolsonaro, Alexandre Ramagem, chefe da ABIN, e o
general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
O
crime: obstrução de Justiça. Prova documental: os relatórios produzidos pela
ABIN que os advogados de Flávio confirmam que receberam. A ABIN nega a autoria
dos relatórios, assim como o general Heleno. Vão negar o resto da vida. Mas
eles e Bolsonaro já admitiram a reunião com os advogados no Palácio do
Planalto.
Está
aí o último serviço que o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) poderia prestar ao
país na condição de presidente da Câmara – aceitar um dos mais de 50 pedidos de
abertura de impeachment contra Bolsonaro que dormem em sua gaveta. Ou um dos
próximos que serão naturalmente apresentados.
Motivos
para isso não faltam e, em breve, o governo oferecerá mais um – o eventual
fracasso da vacinação em massa dos brasileiros contra a Covid-19. Em março
último, o então ministro Luiz Mandetta, da Saúde, previu que se o governo nada
fizesse, morreriam até dezembro 180 mil pessoas. Cumpriu-se a previsão.
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