É
preciso fazer exatamente o contrário do que o presidente sugere
O
Brasil tem a incrível capacidade de, retrospectivamente, transformar
presidentes incompetentes em estadistas. Quando eu comecei no jornalismo, sob a
gestão de José Sarney, que assumira o posto com a inflação em 242% e o entregou
com ela em 1.973%, parecia impossível imaginar uma liderança pior que a dele,
mas aí veio Fernando Collor de Mello e tivemos de reconsiderar.
Presidentes desempenham sempre dois papeis. Precisam ser capazes de montar uma equipe de governo que entregue resultados, mas também exercem influência pelos exemplos que dão e pela forma como se posicionam diante das grandes questões que se apresentam para o país --algo que antigamente chamávamos de bússola moral.
A
pandemia dá especial relevo ao segundo papel. Enquanto líderes de outros países
se desdobram para conseguir vacinas e fazem questão de ser os primeiros a
receber a injeção diante das câmeras, Bolsonaro não cessa de dar declarações
que diminuem a gravidade da epidemia, aparece quase sempre sem máscara e ainda
sabota iniciativas de imunização planejadas por rivais.
Parte
da população, em especial seus simpatizantes, imita suas atitudes. Um bom exercício
acadêmico para os próximos anos será estimar qual o excesso de mortes que pode
ser atribuído ao gestual do presidente.
Mas
talvez eu exagere nas críticas a Bolsonaro. Ele, afinal, continua funcionando
como uma bússola moral. Desde que se saiba que é uma com os polos invertidos,
dá para orientar-se fazendo exatamente o contrário do que o presidente sugere.
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